Oficinas debaterão sustentabilidade dos agrocombustíveis nos municípios de Mato Grosso

Pequenos agricultores e indígenas dos municípios de Lucas do Rio Verde e Barra do Bugres avaliam impactos da produção em encontro realizado pelo Formad no mês de setembro.

O Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD começa a realizar neste mês setembro o Encontro “Impactos da soja e cana e proposta de sustentabilidade” nas regiões de Lucas do Rio Verde e Barra do Bugres. As atividades serão de avaliação dos impactos socioambientais da cultura da soja em Lucas, nos dias 13 e 14 de setembro, e da cultura da cana em Barra do Bugres, nos dias 18 e 19. Os encontros e oficinas serão junto às comunidades tradicionais e aos pequenos agricultores das regiões, tendo o caráter de formação das pessoas e entidades envolvidas.

O projeto de “Avaliação dos Impactos socioambientais da produção dos Agrocombustíveis (Cana e Soja) em Mato Grosso” está sendo executado pelo Formad com o objetivo de assegurar que as comunidades tradicionais, rurais e urbanas, além dos povos indígenas e os pequenos agricultores – que são os principais atingidos pelo avanço do modelo agroexportador no Estado – possam participar de forma consciente dos processos de tomadas de decisão de programas de governo e de conselhos municipais, buscando o fortalecendo das intervenções da sociedade civil em temas que digam respeito à sua qualidade de vida presente e futura.

Esse projeto se faz necessário devido à expansão das monoculturas da cana-de-açúcar e soja no Estado, que contribuem para a produção de agrocombustível (etanol) no Brasil e tem demandado o monitoramento da dimensão desse crescimento e dos seus impactos socioambientais. Mato Grosso é o hoje maior produtor de soja e o oitavo maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, adquirindo destaque fundamental no debate em torno da produção e dos impactos socioambientais gerados por essas agromassas.

As culturas da cana e da soja estão presentes em quase todos os estados brasileiros, tornando o Brasil o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, sendo assim responsável por mais de 70% da produção mundial. Atualmente o país é também o segundo maior produtor de soja no mundo, porém as atuais projeções para a Safra 2012/2013 colocam o Brasil como o maior produtor. Isso por causa da crise climática que atinge os Estados Unidos.

As expectativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA são para que as lavouras brasileiras cresçam de 60 milhões de hectares para 69,7 milhões até 2020. Esse acréscimo de 9,7 milhões seria resultado do aumento principal da produção de soja (mais, 4,7 milhões de hectares) e cana (mais, 4,3 milhões de hectares). O milho teve ter uma expansão de área de cerca de um milhão a mais de hectares. As demais lavouras analisadas pelo MAPA nos seus últimos estudos mantêm-se praticamente sem alterações ou perdem área, como o café, arroz, laranja e outros.

O estado do Mato Grosso é sede das principais empresas do agronegócio, que contribuem diretamente para a expansão do sistema agroexportador, que são responsáveis pelo fomento da produção de agrocombustíveis no mundo. Os municípios de Lucas do Rio Verde e de Barra do Bugres tem papel fundamental na produção de soja e cana no estado. As empresas presentes nesses municípios utilizam inúmeras estratégias para promover ações sustentáveis e cada vez mais conseguir mercado mundial.

As soluções “verdes” para as crises mundiais
As crises mundiais econômicas, de insegurança alimentar e climáticas fazem com que as empresas do agronegócio comecem a pensar e agir verde. Esse verde pintado pelo capitalismo de desenvolvimento sustentável é utilizado como marca, dentro de uma sociedade que está preocupada com a sustentabilidade do planeta.

O mercado cada vez mais exigente está certificando empresas, que agem a favor das ações sustentáveis do capitalismo. A busca por soluções energéticas é o principal motivo para o aumento da produção de soja e cana, em Mato Grosso e no Brasil. Os agrocombustíveis podem ser derivados principalmente da cana, soja e milho, mas existem estudos com outras agromassa, em alternativa para a escassez dos combustíveis fosseis (petróleo).

Tanque cheio e prato vazio – Caio B.O.B.

Segundo o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente – Pnuma existem 525 milhões de pequenas propriedades agrícolas no mundo, das quais 404 milhões têm menos de dois hectares. A agricultura familiar representa 70% da produção agrícola global, porém a diversidade agrícola vem perdendo espaço para a produção de soja, cana, eucalipto, pasto, palma.

Esses pequenos produtores e povos tradicionais são as principais vítimas dos impactos socioambientais gerados pelo avanço dos agrocombustíveis. As certificações e ações sustentáveis das empresas do agronegócio geralmente não correspondem às necessidades e demandas locais desses grupos atingidos. As avaliações que geram as certificações “verdes” não são discutidas com as comunidades. Então como podem ser consideradas sustentáveis se não dialogam com todos os atores do processo de produção?

O projeto “Avaliação dos Impactos socioambientais da produção dos Agrocombustíveis (Cana e Soja) em Mato Grosso”, realizado pelo Formad em parceria com a Federação de Orgãos para Assistência Social e Educacional – FASE/MT quer avaliar juntamente com os principais atores do processo, os trabalhadores agrícolas e as comunidades tradicionais, se o atual sistema agroexportador é sustentável.

Sustentabilidade em Lucas e Barra
Pensando na inclusão dessas comunidades no processo de avaliação, as ações do projeto do Formad identificam o que é essa “sustentabilidade” por meio da participação das comunidades locais nesse processo de avaliação dos impactos socioambientais da cultura da soja e cana.

Por que Lucas do Rio Verde?
Lucas tem a soja como o principal produto agrícola cultivado no município, sendo responsável pela quase totalidade da economia local. O município é também um dos grandes produtores nacionais de milho de segunda safra. A economia do município se consolida com a chegada de gigantes da indústria de transformação de alimentos. Na região estão presentes as maiores empresas brasileiras e mundiais do agronegócio, como a Brasil Foods (resultado da fusão da Perdigão com a Sadia), Grupo Maggi, cooperativa Comigo, JBS Friboi, Cargill e Bunge, essa última também é uma das maiores empresas exportadora de cana.

Lucas é uma região com predominância da agricultura familiar, porém também é um dos principais municípios responsável pelo alto consumo de agrotóxicos nas lavouras de Mato Grosso. O estado é o maior consumidor de veneno no Brasil, que por sua vez é o país campeão mundial no consumo de agrotóxicos. Em média cada brasileiro ingere 5,2 litros de veneno por ano; estudos realizados pela Universidade Federal de Mato Grosso encontraram resíduos de agrotóxicos no leite materno de mais de 60 mulheres da região.

Por que Barra do Bugres?
Hoje em dia as atividades econômicas predominantes são a agroindústria de cana-de-açúcar e a pecuária bovina. De toda forma, o plantio da cana e seu processamento são, de longe, as atividades econômicas predominantes. Barra do Bugres é o município que apresenta a maior proporção de cana plantada no Mato Grosso.

A região, originalmente povoada pelos índios Umutina, começa, nos anos 1960, a receber migrantes. Destacam-se ainda, além das populações indígenas, a presença de quilombolas, além da sua localização na Bacia do Rio Paraguai, que é fundamental para biodiversidade do pantanal brasileiro, esse bioma vem se extinguido com avanço das lavouras de monocultura. Essa produção geralmente é transferida das várzeas dos rios pantaneiros para extensas áreas nas chapadas, planaltos e planícies da Bacia do Alto Paraguai, permitindo a utilização de tecnologia agrícola moderna, como mecanização e correção química dos solos.

Mais informações

As oficinas serão abertas e gratuitas para toda a população de Lucas do Rio Verde e de Barra do Bugres e regiões. Para maiores informações entrar em contato na secretária executiva do Formad (65) 33224455.

Caio B.O.B – Jornalista do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD

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