Pesquisar
Close this search box.

Campanha Y Ikatu Xingu apresenta suas ações durante Seminário sobre Mudanças Climáticas, em Cuiabá

Rede de sementes de espécies nativas para a restauração florestal, formação de agentes socioambientais, manejo e uso controlado do fogo, planejamento e gestão territorial são algumas das ações que a campanha Y Ikatu Xingu executa na região da Bacia do Xingu, e que foram expostas em seminário.

ISA – Rede de sementes de espécies nativas para a restauração florestal, formação de agentes socioambientais, manejo e uso controlado do fogo, planejamento e gestão territorial são algumas das ações que a campanha Y Ikatu Xingu executa na região da Bacia do Xingu, e que foram expostas em palestra no Seminário “As Mudanças no Clima e a Agricultura de Mato Grosso: impactos e oportunidades”, que aconteceu em Cuiabá, de 9 a 11 de setembro. O evento contou com a participação de 160 pessoas de 26 municípios, representando diferentes segmentos da sociedade – agricultores familiares, grandes produtores e indígenas -, e foi realizado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e o Instituto Socioambiental (ISA), em parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso – Sema/MT.

“A campanha Y Ikatu Xingu é uma campanha de responsabilidade socioambiental compartilhada”, afirmou Rodrigo Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu, na palestra “Campanha Y Ikatu Xingu: para além do carbono”, enfatizando que a campanha acredita na possibilidade de diálogos entre produtores, exportadores, agentes financeiros, governo e ONGs, agricultores familiares e povos indígenas. Para além dos dados críticos do desmatamento no Mato Grosso, Junqueira apresentou o que está sendo feito para recuperar as nascentes e matas ciliares que compõem a Bacia do Xingu.

O fomento da cultura florestal e a disseminação de técnicas agroflorestais, além da experimentação de diferentes métodos de plantio com custos diferenciados, foram algumas das atividades destacadas na palestra. Para 2008, está prevista a restauração de 500 hectares com auxílio da Rede de Sementes do Xingu, que mobiliza 11 municípios e 3 aldeias indígenas para a coleta de sementes de 180 espécies de árvores nativas. Espera-se coletar até o final deste ano aproximadamente 12 mil quilos de sementes.

Diagnósticos e recomendações – Durante os três dias de evento, representantes da agricultura intensiva, familiar e indígena e da pecuária e agroindústria reuniram-se para discutir suas realidades e fazer diagnósticos sobre formas de redução das emissões de dióxido de carbono.

O grupo da agricultura intensiva identificou que os principais problemas que afetam esse setor são: alterações nos ciclos de produção por causa dos transgênicos e melhoramentos genéticos das espécies; o surgimento de novas pragas; o aumento dos conflitos para o uso dos recursos hídricos; falta de dados mais claros sobre os impactos das mudanças climáticas no setor. Como recomendações ao governo, o grupo indicou a necessidade de dinamizar o Fundo Ambiental Estadual (FEMAM), criar linhas de créditos específicas que incentivem métodos alternativos de produção e divulgar informações sobre como diminuir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Recomendações também foram feitas ao terceiro setor e à academia, como a realização de diagnósticos sobre passivos ambientais nas propriedades e o desenvolvimento de pesquisas sobre métodos de seqüestro de carbono e avaliação climatológica e estudos hidrológicos.

Já o grupo da pecuária recomendou que sejam implementadas políticas públicas de incentivo à pesquisa ambiental para mensurar os impactos causados pelos sistemas de produção tradicionais, sugerindo alternativas. Também foi pedida a desburocratização do licenciamento ambiental.

Os representantes da agricultura familiar falaram sobre a necessidade de discutir sobre o pagamento de serviços ambientais, ampliar a assistência técnica disponibilizada pelo governo, realizar intercâmbios entre grupos de pequenos agricultores dentro do Mato Grosso e incentivar a implementação de sistemas de produção agroecológica. Eles lembraram ainda a importância da criação de escolas agrícolas que sigam as diretrizes da agroecologia, disseminando as técnicas alternativas entre a juventude.

Carbono é fumaça? – O conteúdo científico de algumas palestras e mesas redondas – sobre mercado de carbono, modelos climáticos e emissões de gases do efeito estufa – trouxe à tona a necessidade de tornar mais acessíveis ao público leigo os termos técnicos que permeiam as discussões sobre mudanças climáticas. No evento, estavam presentes representantes de oito etnias indígenas do Mato Grosso, que enfatizaram a dificuldade que muitas pessoas ainda sentem em compreender esse assunto. “Os índios perguntam o que é carbono. Carbono é fumaça? O índio tem coragem de perguntar isso, mas acho que todo mundo tem dúvida sobre isso, inclusive os pesquisadores. Não podemos ter vergonha de perguntar”, falou Paulo Cipassé Xavante, da Associação Aliança dos Povos do Roncador.

“O sol está muito quente, há cada vez mais fumaça e a poeira está subindo. Os rios estão secando. Não fomos nós que fizemos isso. Vocês brancos são responsáveis por isso. Será que os brancos não têm vergonha de chamar o Mato Grosso de Mato Grosso? Eu fico com vergonha de ouvir falar do Mato Grosso, porque quase não tem nem mato aqui”, protestou o pajé Toni Suyá, da etnia Kisêdjê.

Os representantes indígenas sugeriram: a implementação de sistemas agroflorestais nas roças tradicionais; o apoio técnico e financeiro para aplicar novas formas de plantio e fazer adaptações de técnicas tradicionais; o apoio do governo para facilitar a burocracia de projetos indígenas; replantar matas e beiras dos rios; o incentivo à apicultura nas aldeias; garantir a demarcação das terras indígenas; impedir que madeireiros entrem nas terras indígenas e garantir a continuidade dos esclarecimentos e das discussões sobre mercado de carbono e mudanças climáticas.

Compartilhar Notícia

Últimas Notícias