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Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas será lançada dia 06 em Cuiabá

Faculdade Indígena Intercultural em parceria com ONU e Editora Entrelinhas lança Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas

A Faculdade Indígena Intercultural, vinculada à Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat, lança em parceria com a Editora Entrelinhas e as Nações Unidas(ONU) a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 13 de setembro de 2007, depois de 22 anos de discussão. O lançamento acontece no dia 06 de outubro, na abertura da Feira do Livro Indígena de Mato Grosso, na praça da República em Cuiabá.

A publicação( três mil exemplares) será distribuída gratuítamente, com prioridade aos diversos povos indígenas de Mato Grosso. Também receberão a publicação a sociedade civil organizada, demais órgãos governamentais municipais e do Estado, além de bibliotecas públicas e escolares no Estado de Mato Grosso.

Consideramos este documento de extrema importância para o Estado de Mato Grosso, onde hoje se localizam 71 Terras Indígenas (entre as homologadas, regularizadas, delimitadas, identificadas ou em estudo) além de 9 povos indígenas isolados na sua região Norte. São milhares de índios nas aldeias e muitos mais integrados entre os não-índios em todo o nosso extenso território – com todos os benefícios e dificuldades que esta integração cultural proporciona.

São por meio de seus artigos que indígenas e não-indígenas, vão tomar conhecimento dos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, afirmando a necessidade de serem respeitados na sua diferença. A Declaração trás em seu bojo, entre outros aspectos, a reafirmação da democracia dos direitos legais; a preocupação com as injustiças históricas; o reconhecimento de promover os direitos intrínsecos dos povos indígenas; a consolidação da organização política, social, econômica e cultural; o direito aos territórios e suas terras tradicionais; o reconhecimento às culturas e às práticas tradicionais indígenas; o direito à educação escolar específica e intercultural; o respeito aos direitos humanos e a autodeterminação.

A produção de livros de autores indígenas na Faculdade Indígena Intercultural- 24 livros já foram publicados

Os índios foram os primeiros habitantes do território brasileiro e, antes da chegada dos portugueses, eram em milhões, falavam mais de mil línguas e estavam espalhados por todas as regiões. Com o avanço dos não-índios, muitos foram mortos, escravizados, arrancados de suas terras, o que fez com que parte de sua cultura acabasse se perdendo. Uma cultura que é tão ou mais brasileira que qualquer outra e ainda assim é encarada como algo estranho, distante, às vezes sem relevância.

Atualmente, apesar da consciência da importância da preservação do que resta dessa cultura, as ações ainda são poucas diante do que há para ser feito. E uma das mais interessantes está aqui mesmo, em Mato Grosso. Atualmente a Faculdadse Indígena Intercultural(FFI) que já formou mais de 400 índios em diversas profissões já publicou 23 livros de autores indígrenas..No ano passado, a faculdade fez o lançamento de livros das Séries Experiências Didáticas e Práticas Interculturais dos índios Ikpeng.

O ineditismo desses livros é que são de autoria de professores e alunos indígenas de 34 etnias no estado. Os da série Experiências Didáticas são escritos nas línguas-mãe e utilizados nas salas de aulas nas aldeias indígenas. Já os da série Práticas Interculturais organizam e divulgam textos e ilustrações de professores e alunos indígenas que relatam seus mitos, conflitos, costumes e saberes na língua portuguesa.

Boa parte dos livros reúne textos que narram o modo de fazer roças, a culinária indígena e restrições alimentares, os problemas da luta pelos territórios indígenas e os marcadores do tempo, formas de observar o clima e regime de chuvas sempre através dos animais, das estrelas e os rios. As ilustrações foram produzidas pelos alunos e professores.

Só no anos passado foram quatro livros da Série Experiências Didáticas, de professores e alunos da etnia Ikpeng, situados hoje na parte central do Parque Indígena do Xingu, conhecido como Médio Xingu. Os livros: Irwa, Ga, Orong, Ikpeng Ungwopnole são de autoria dos professores Iokore Kawakum Ikpeng, Korotowi Taffarel, Maiuá Meg Poanpo Txicão e organizados pelos coordenadores da Faculdade Indígena, Elias Januário e Fernando Selleri Silva.

Elias ressalta, com orgulho, que a Faculdade indígena, ligada a Unemat é uma raras instituições do país que possui um programa que forma professores indígenas, além de desenvolver materiais didáticos que os auxiliam em seu trabalho, escritos em suas línguas. Todo o currículo é específico, intercultural, onde ele aprende sobre ambas, a sociedade indígena e a não-índia. A língua, lembra Elias, é muito importante para a identidade de um povo. Não dá para utilizar nas salas de aula indígenas livros que tragam uma visão distante, equivocada, que é o que marcava os livros didáticos até há pouco tempo.

As publicações da produção acadêmica gerada por professores e alunos abrem várias possibilidades tanto para as nações indígenas como para a sociedade brasileira criando um canal de comunicação que facilita o entendimento e a longo prazo pode derrubar preconceitos. “Ao dominarem a escrita, os indígenas passam a existir na historia do país mas agora a partir do conhecimento deles. E com esse instrumento podem também repassar aos mais jovens valorizando suas raízes. Ao mesmo tempo, ao aprenderem também a língua portuguesa todo esse conhecimento bem como as maneiras como eles vêem o mundo podem ser disponibilizadas aos não-índios. Esse processo é muito interessante porque pode facilitar o entendimento entre os povos já que não existem diferenças intelectuais, apenas culturais, no modo de interpretar a vida”, analisa Elias.

O investimento nesse tipo de projeto ainda é pequeno, lamenta. As duas séries estão saindo graças a recursos da própria Unemat, mas seria interessante que se abrisse linhas de financiamento para esse tipo de publicação. Para ele, é preciso pensar nessa necessidade, na trajetória de luta deles, no impacto avassalador da chegada dos não-índios. “Eles merecem o direito de terem livros publicados com sua história e na própria língua”, frisa.

Segundo Elias, a pretensão inicial é enviar os livros para todo o Mato Grosso. “A idéia é levar para as escolas essa possibilidade de rever a concepção sobre os índios, dialogar. A base é o diálogo entre as culturas”, diz.

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