A busca pelo combustível “verde”

Iniciativas para estudos e a produção de matéria-prima que seja sustentável, mostram novas matrizes além das produzidas pelo agronegócio.

*Agrocombustível tem a mesma conotação de biocombustível, porém o prefixo “BIO” significa vida, e os combustíveis gerados por esse modelo, não representam vida no campo.

Atualmente as políticas nacionais brasileiras para tecnologia e energia estão focadas nos avanços das pesquisas, relacionadas à geração e consumo de agrocombustíveis-(biocombustível)*. Novas pesquisas apontam outras matérias primas para geração do combustível “verde”, que não sejam derivadas do plantio da cana-de-açúcar e dos óleos extraídos dos vegetais e dos animais.

Uma dessas novas pesquisas está sendo desenvolvidas por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que estão utilizando baratas para produzir etanol. Isso mesmo, baratas! Estão sendo utilizados na pesquisa dois tipos de baratas; a Periplaneta americana, espécie mais comum, encontrada em esgotos e escondidas nas casas; e a Nauphoeta cinerea, um tipo de barata da América Central, mas que já pode ser encontrada em várias partes do planeta.

baratas podem ser fonte de etanol – (FOTO: Mari Queiroz)

Os pesquisadores acrescentaram a cana-de-açúcar ao cardápio variado das baratas, que comem desde restos de comidas até cadáveres. A ideia é usar as enzimas do inseto para degradar o bagaço de cana e, com isso, obter açúcares, cuja utilidade pode vir a ser a produção de etanol.

Segundo o professor Ednildo de Alcântara Machado, do Instituto de Biofísica da UFRJ, “A variada alimentação das baratas vem da capacidade de “moldarem” sua digestão. Quando uma nova alimentação é inserida, em dez dias, em média, ela começa a produzir uma série de enzimas especializadas para quebrar o novo alimento”, observou o professor, ao explicar que algumas enzimas do sistema digestivo da barata já foram identificadas, e agora estuda a forma de retirar partes do DNA delas que definem a produção destas substâncias, capazes de degradar a biomassa em escala industrial.

Combustível “verde-mar”
Outro estudo que já será implementado no Brasil em 2013 é a produção do biodiesel extraído de algas marinhas. A primeira fazenda para a produção será instalada em Pernambuco, e custará cerca de US$ 9,8 milhões. O grupo JB, responsável pelo empreendimento, coletará o material oleoso produzido por algumas espécies de algas marinhas, além de aproveitar as emissões de carbono emitidas pelas caldeiras da Companhia Alcoolquímica Nacional, que funciona no município de Vitória de Santo Antão, a 51 quilômetros de Recife.

Algas marinhas vão gerar Biodiesel no Brasil em 2013 – (FOTO: ExxonMobil)

“O CO2 acelera o processo de fotossíntese das algas, que têm um forte componente oleoso que produz e gera o combustível”, explicou Rafael Bianchini, diretor da subsidiária brasileira da empresa austríaca SAT, que desenvolveu o projeto. Bianchini indicou que o objetivo é “transformar o CO2 das indústrias de um passivo para um ativo”, aproveitando a grande emissão de carbono desperdiçado na produção de etanol de cana.

Ainda assim, segundo Carlos Beltrão, presidente do grupo JB, a produção do combustível de algas deve consumir, de início, 5% das emissões de CO2 de uma usina de processamento de cana-de-açúcar.

Modelo agroexportador
O Brasil é dos maiores produtores e exportadores de agrocombustíveis, no mundo. Os dois principais agrocombustíveis líquidos utilizados no Brasil são o etanol (extraído de cana-de-açúcar e utilizados nos veículos leves) e, mais recentemente, o biodiesel (produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais, utilizados principalmente em ônibus e caminhões). Os resultados dos estudos e incentivos do governo para a produção das agromassas, são encontrados nos postos de abastecimento, desde o ano de 1931, quando oficialmente o governo autorizou à adicionar etanol na gasolina.

Cana-de-açúcar principal matéria-prima para os agrocombustíveis – (FOTO: Caio B.O.B./FORMAD)

O percentual de etanol anidro encontrado na gasolina vendida ao consumidor varia de 18% a 25%. Já o etanol hidratado pode ser utilizado nos veículos flex-fuel (abastecidos com etanol ou gasolina) e misturados em qualquer proporção à gasolina. Já o biodiesel é adicionado ao diesel de petróleo em uma proporção de 5%.

Para gerar todos esses números e combustível, são necessárias inúmeras áreas de plantio de cana-de-açúcar, de soja e do milho; em menor medida, da palma, mamona e pinhão manso. Além disso, é utilizado um número abusivo de agrotóxicos nessas lavouras. Isso acaba gerando conflitos socioambientais de pequena e grande escala, tais como: desertificação do solo, deslocamento da produção agrícola local, aumento do preço da terra, além dos problemas de saúdes gerados pelos agrotóxicos.

FONTE: Caio B.O.B. – Jornalista do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD

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