OPAN – No dia 06 de março (quinta-feira), indígenas da etnia Enawene Nawe que realizavam sua pescaria ritual, na região do rio Preto, no noroeste de Mato Grosso, foram surpreendidos por um grupo formado por proprietários locais armados e acompanhados pela Polícia Militar de Juína, que chegou ao acampamento de pesca com armas em punho. Diante dessa cena, houve grande tumulto e as crianças que acompanhavam seus pais correram para a mata ou se atiraram no rio. O grupo de adultos que ficou na margem do rio recebeu vários insultos verbais e foi informado de que em breve os produtores e a polícia voltariam ao local e se encontrassem os indígenas, usariam a força para expulsá-los se fosse necessário.
A área em questão é pleiteada pelos indígenas por se tratar de território tradicional de pescaria. Apesar de estar fora da área indígena, nos últimos anos os Enawene vinham utilizando a região para pescaria sem maiores problemas. Construíam sua barragem, realizam a pescaria e ao fim do período desobstruíam o rio. No entanto, a criação de um Grupo de Trabalho (GT) da FUNAI para revisão da área Enawene deixou os proprietários da região em clima beligerante.
Recentemente os fazendeiros conseguiram uma liminar da justiça que proíbe a presença dos indígenas naquela região com a finalidade de realizarem sua pescaria ritual. Os Enawene solicitaram apoio à FUNAI e ao MPF em carta onde explicaram que a pescaria é uma obrigação com os espíritos (Yakariti) para quem eles celebram o ritual Yankwa, sob a pena de sofrerem punições na forma de mortes e doenças. O Ministério Público Federal recorreu a liminar e no momento o processo está com um Subprocurador do Tribunal Regional Federal, em Brasília.
A FUNAI de Juína já tomou as medidas necessárias, solicitando o apoio da Polícia Federal, mesmo assim o clima ainda é muito tenso na região e a possibilidade de um confronto que pode ter conseqüências trágicas é iminente.