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Formad participa da 6ª edição da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária de MT

Discussões foram realizadas na UFMT, nos dias 06 e 07 de julho

Por Bruna Pinheiro / Formad

Com o tema “Reforma agrária popular: em defesa da natureza e de alimentos saudáveis”, a 6ª edição da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária de Mato Grosso (JURA-MT) foi encerrada na última sexta-feira (07) após uma série de atividades realizadas desde março deste ano. Entre as mesas redondas da programação, uma discutiu direitos humanos e da natureza e contou com a participação do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad).

O secretário-executivo do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), Herman Oliveira, foi o coordenador da mesa redonda “Água e energia: reflexões sobre os direitos humanos e da natureza”. O tema foi discutido pelos educadores populares ambientais Isidoro Salomão e Vanda dos Santos, da Sociedade Fé Vida e Comitê Popular do Rio Paraguai/Pantanal e Sílvio Roberto, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB-MT). As duas entidades também são filiadas ao Fórum.

Isidoro Salomão relembrou a trajetória de luta das comunidades de Cáceres em defesa dos rios e o histórico de construção dos comitês populares da região do Pantanal. “A água é o primeiro requisito para a saúde e a vida. Infelizmente, junto com as águas nasceu o agronegócio. E a luta pela água e pela terra fez com que os direitos humanos fossem perdidos. Por isso, vimos que só lutar pela água não era suficiente. Precisávamos nos organizar em defesa de outros direitos também. O direito à vida, às tradições e a nossa cultura”, contou.

Ainda sobre a questão da água e a perda de direitos, Silvio Roberto do MAB destacou o projeto político por trás dos ataques às bacias hidrográficas e rios de Mato Grosso, com a consequente implantação de usinas hidrelétricas. Ele chamou a atenção para o caso da UHE Castanheira e seu alto risco de mortalidade de peixes, contaminação da água, entre outros impactos, além de citar a aprovação do Projeto de Lei 1363/2023, que proíbe o transporte do pescado em Mato Grosso por cinco anos.

“O que esses pescadores farão durante esse tempo? Muitos perderão a relação com os seus territórios em busca de outros empregos e condições de vida. Isso acaba com a resistência do povo e facilita o avanço de hidrelétricas. Por isso falamos que é um projeto político de desmobilização”, acrescentou.

Para Herman Oliveira, diante desse cenário de enfraquecimento das lutas populares, uma das saídas seria trabalhar na retomada de mobilizações. “É de extrema importância e necessário que os pescadores se reconheçam como um grupo social e de luta. A força deles pode ser muito maior e isso pode ajudar na pressão contra projetos a exemplo da Lei da Pesca, que tem o potencial de exterminar e marginalizar milhares de pessoas em todo o estado”, frisou.

Tradições indígenas são compartilhadas

A JURA-MT contou também com a participação de lideranças indígenas dos povos Bakairi e Enawene em uma Roda de Conversa sobre os cuidados com saúde e alimentação nos territórios. A coordenação ficou com a pesquisadora do Núcleo de Estudos Ambientais e em Saúde do Trabalhador Instituto de Saúde Coletiva (Neast-UFMT), Márcia Montanari.

Durante a Roda, os indígenas contaram um pouco de suas experiências com o uso de plantas como medicamentos e também em cuidados espirituais nas aldeias. O pajé Racide Matuawa (povo Bakairi) falou ainda sobre a felicidade em poder ajudar os seus parentes, ao ser autorizado a fazer a pajelança em hospitais, algo que até pouco tempo era proibido por instituições de saúde.

Debates – A JURA-MT reuniu estudantes, ambientalistas, indígenas, pesquisadores e integrantes de movimentos sociais para discussões sobre a importância da reforma agrária no país, proteção de territórios, direitos humanos, agroecologia, demarcação de terras indígenas, entre outros assuntos. A Jornada teve início em março com vivências em territórios de reforma agrária, o “Cinema da Terra” em escolas públicas, a exposição fotográfica “Movimento & Foco” de Francisco Alves, a articulação com o Museu de Arte e Cultura Popular com a exposição “Bio”, até chegar às rodas de conversa e palestras nos dias 06 e 07, na UFMT.

A programação contou também com a 2ª Feira Saberes & Sabores da Terra, com a comercialização de alimentos e produtos da agricultura familiar e apresentações culturais. O encerramento da Jornada trouxe a discussão sobre os desafios da Reforma Agrária e a demarcação de terras indígenas no governo Lula. A mesa teve como palestrantes a presidente da Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Eliane Xunakalo, e o dirigente nacional do MST, João Paulo Rodrigues. A coordenação ficou com Idalice Nunes, do MST-MT.

Em 2023, o movimento da JURA completa 10 anos no Brasil com o objetivo de colocar em discussão o projeto de Reforma Agrária e demais temas relacionados. A Jornada é realizada em todo o país com a participação de mais de 70 instituições de ensino superior. Em Mato Grosso, a primeira edição aconteceu em 2018.

Fotos: Francisco Alves

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