Queda no desmatamento em biomas de Mato Grosso: avanço ou alerta?

"Estado do agronegócio" segue entre os 10 mais desmatados do país.

Por Bruna Pinheiro / Formad

Os biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal registraram índices mais baixos de desmatamento em 2024, de acordo com o MapBiomas, divulgado nesta quinta-feira (15.05). A queda nos indicadores é positiva, mas a degradação ambiental em Mato Grosso ainda é preocupante e o estado se manteve entre os 10 mais desmatados do país. Segundo o levantamento, o total de área perdida no “estado do agro” foi de mais de 92,5 mil hectares no ano passado, com destaque em registros de desmate em territórios indígenas. 

Os dados do Relatório Anual de Desmatamento 2024 (RAD2024) revelam uma redução de 32,4% no volume de desmatamento no país. Entre os biomas, o Pantanal foi o que registrou a maior queda na área total desmatada (58,6%), seguido do Pampa (42,1%) e o Cerrado (41,2%). No entanto, o Cerrado ainda é o bioma mais desmatado do país, com mais de 652 mil hectares perdidos em 2024. A agropecuária responde por 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos, segundo o levantamento.

Analisando os chamados ‘vetores de pressão’, que são as causas responsáveis pelo desmatamento nos territórios, em Mato Grosso, os principais causadores são a agropecuária, garimpo, expansão urbana e barragens/reservatórios. Com 92,5 mil hectares desmatados em 2024, Mato Grosso segue na lista dos 10 estados com o maior volume de área perdida. Pelo segundo ano consecutivo, o Maranhão ocupa o primeiro lugar.  Das 10 cidades com a maior área desmatada do país, o município de Colniza permanece na lista, sendo que de 2023 para 2024, o índice subiu 13,4%, chegando a mais de 10,7 mil hectares desmatados.  

Qualquer redução no índice de desmatamento deve ser celebrada pelos impactos socioambientais positivos que isto representa. Porém, não devemos esquecer que a situação de Mato Grosso está longe do ideal e muito ainda deveria ser feito a respeito da fiscalização, punição e monitoramento de territórios ameaçados por atividades exploratórias com interesse no desmate de áreas”, pondera o secretário executivo do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), Herman Oliveira.

Durante o lançamento do RAD2024, promovido pelo MapBiomas, representantes de organizações brasileiras mencionaram a importância da utilização destes dados para a proposta e implantação de políticas públicas que garantam a proteção de territórios. “O que temos visto em Mato Grosso são políticas anti ambientais, tanto por parte do poder Legislativo, quanto pelo Executivo, a exemplo da Moratória da Soja, PL do Veneno, PEC das Unidades de Conservação, PLC que tenta reclassificar a Amazônia em Cerrado, entre tantas iniciativas catastróficas ao meio ambiente”, reforça o ambientalista.

Outro dado de alerta do relatório está relacionado ao desmatamento em terras indígenas. No ranking dos cinco territórios indígenas mais desmatados do país em 2024, dois estão localizados em Mato Grosso: a TI Sararé, na região de Conquista D’Oeste, que registrou 962 hectares desmatados e a TI Wedezé, em Cocalinho, com 402 hectares de vegetação nativa perdidos. No total, a área desmatada em territórios indígenas no Brasil ao longo do ano foi de quase 16 mil hectares.  

Em relação às Unidades de Conservação, o MapBiomas aponta o desmate de mais de 57,9 mil hectares no ano passado, sendo 43,9% em áreas da Amazônia. A maior porção de vegetação perdida registrada aconteceu em unidades estaduais de uso sustentável, com quase 30 mil hectares desmatados. Houve alta em UCs federais de uso sustentável, chegando a 23,3 mil hectares perdidos.

O MapBiomas Alerta é uma iniciativa do MapBiomas que consolida, valida e refina as informações emitidas por diversos sistemas de monitoramento do desmatamento no Brasil, como o Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e os Sistemas de Alerta de Desmatamento (SADs) do Imazon, do SOS Mata Atlântica-ArcPlan e do Pampa/UFRGS/Geokarten. O relatório completo pode ser acesso, clicando aqui: https://alerta.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/17/2025/05/RAD-2024_Destaques_14.05.2025_FINAL.pdf.

Foto: Agência Reuters

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