São 16 anos de impunidade. Foram 21 trabalhadores mortos. E um único sentimento: Lutar! O dia 16 de abril entrou para história recente do Brasil de uma forma inaceitável. Bem ali, no estado do Pará, uma ação policia, massacrou os trabalhadores que defendiam e lutavam pelo seu direito primordial, o direito a um pedaço de terra. E a justiça brasileira, até hoje, não fez justiça.
Nesta terça-feira, 17, o Centro Político Administrativo – CPA em Cuiabá ficou vermelho. Vermelho igual o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de MT, que esteve de luto. Não somente os Sem Terra e militantes, mas todos os trabalhadores que acreditam que a justiça possa ser feita, estiveram de luto. Mais de 200 trabalhadores do MST-MT realizaram manifestações na capital mato-grossense. Além de trancarem a BR-163, pelo segundo dia, perto do município de Sorriso.
No inicio da manhã, os 200 trabalhadores rurais trancaram os cruzamentos da Avenida Av. Historiador Rubens de Mendonça, mais conhecida como Av. CPA, em Cuiabá. Em memória aos 21 trabalhadores assassinados no massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Assim como em mais de 18 estados brasileiros, que tiveram protestos e ocupações em órgãos públicos, os militantes do MST-MT realizaram uma marcha durante esta tarde, que percorreu o CPA.
No decorrer da caminhada a pauta nacional de Reforma Agrária do MST foi entregue e protocolada junto aos representantes dos gabinetes da Secretaria de Educação, da Secretaria de desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar, da Secretaria de Ciências e Tecnologia e encerraram a ação no Palácio da Justiça.
A luta por justiça é a luta pela terra
Os Sem Terra chegaram carregando cruzes, velas e faixas ao Tribunal de Justiça – local escolhido para as manifestações às 17 horas, momento em que ocorreu o massacre – expondo a impunidade que perdura a mais de 16 anos. O ato no TJ continuou até um representante do judiciário aceitar receber os documentos em mãos. A secretária da presidência do TJ recebeu dos trabalhadores as reivindicações.
O documento clamava pela justiça plena e ao alcance de todos, e reivindicava o afastamento definitivo de magistrados que sejam apanhados em situação de corrupção e que já foram afastados pelo Conselho Nacional de Justiça. Além do afastamento imediato da magistrada estadual que negou a proteção à gestante que recentemente foi obrigada a dar à luz a um feto anencefálico, que não viveu nem um minuto.
O MST-MT também reivindica a anulação da Emenda Constitucional (PEC 215/2000) que autoriza a transferência das atribuições e competência para a demarcação dos territórios indígenas e quilombolas do poder Executivo para o Congresso Nacional.
Semana de LUTO em Cuiabá
Assim como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o movimento indígena está realizando atividades durante esta semana na capital mato-grossense. Desde segunda-feira, cerca de 17 representantes de etnias indígenas, além de grupos quilombolas do Estado estão reunidos na Universidade Federal – UFMT para o debate com a sociedade sobre a Emenda aprovado pelo governo brasileiro.
Os mais de 200 participantes do Encontro dos Povos Indígenas do Mato Grosso estão discutindo além da PEC 215, temas como código florestal, Cúpula dos Povos e Rio+20. Foi produzido uma carta relacionada ao Ciclo de Debates – Que Economia Mato Grosso Quer, onde será divulgada durante a Cúpula dos Povos, em junho, no Rio de Janeiro.
Acontece durante o dia 18 a unificação das mobilizações indígenas, quilombolas e dos Sem Terra que saíram em marcha da Avenida do CPA e percorreram Cuiabá, em protesto e para inserção máxima dos debates e reivindicações juntos a população mato-grossense.
ABRIL VERMELHO – O mês de abril, em especifico o dia 16, Dia Nacional da Luta pela Reforma Agrária, os trabalhadores rurais do MST realizaram uma série de mobilizações pelo país, com o trancamento de trechos de rodovias em 20 estados, pela punição dos responsáveis pelo Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, e pelo assentamento das 186 mil famílias acampadas.
ELDORADO DOS CARAJÁS – No dia 17 de abril de 1996, 19 Sem Terra foram barbaramente executados na hora por uma operação da Polícia Militar, no município de Eldorado dos Carajás, no Pará. Mais dois companheiros não resistiram aos ferimentos e morreram no hospital.
Caio BOB – Jornalista do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD