Encontro de Agroecologia abre discutindo relação desigual entre agronegócio e agricultura familia

Agricultores de mais de 30 municípios de MT participam do IV Encontro Estadual de Agroecologia e a II Feira de Economia Solidária de MT

Assessoria/Protásio Morais – A paisagem enfumaçada de Cuiabá foi o tema mais comentado na abertura do IV Encontro Estadual de Agroecologia e a II Feira de Economia Solidária de MT, em Cuiabá nesta quarta-feira, dia 3. Na presença de agricultores familiares de mais de 30 municípios do Estado, os conferencistas falaram sobre as relações entre a conservação da natureza e a agricultura familiar, além da relação desigual entre esta e o agronegócio.

Logo no início, ainda na plenária de abertura, Rita Teixeira, que acabara de chegar do estado do Pará, espantou-se ao se deparar com uma Cuiabá cinzenta em meio a tanta fumaça: “É difícil discutir agroecologia quando as queimadas aumentam 200% ao ano. Nossas ações estão diretamente ligadas à preservação ambiental. É da mata que tiramos a matéria prima para confeccionar nossos produtos. Se continuar assim, onde vamos parar?!”, salientou Rita, representante da Rede de Mulheres Empreendedoras da Amazônia.

Com uma faixa do Grupo de Intercâmbio de agricultura Sustentável – GIAS estampando a frase “Mato Grosso: Agricultura Solidária é possível” sobre a mesa de autoridades, a abertura do IV Encontro Estadual de Agroecologia e a II Feira de Economia Solidária girou em torno das diferenças entre o agronegócio e a agricultura familiar e o disparate ente os modelos de produção. Aliás, o uso de práticas e técnicas agrícolas que não degradam o solo, não atacam a biodiversidade, não prejudicam o meio ambiente, foram ressaltadas durante toda a cerimônia de abertura dos eventos, assim como a fumaça que paira sobre a capital.

“Mato Grosso aparece para o Brasil e para o mundo como o estado das grandes negociações, o estado do agronegócio. Mas temos que atentar para a agricultura familiar, que é quem gera emprego e realmente faz o estado desenvolver. Grandes produtores, ou ‘grandes destruidores’ fazem parte de um modelo econômico que substitui pessoas por máquinas modernas, modelo no qual a destruição ambiental é enorme”, aponta Vicente José Puhl, mestre em Educação Pública e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Mato Grosso, represantante do GIAS.

Tomando como base a quantidade de produção no estado de Mato Grosso, exportação, geração de empregos e desmatamento, o doutor em desenvolvimento rural, Antônio João Castrilon fez um diagnóstico da agricultura em Mato Groso, no qual um dos resultados obtidos é o aumento do cultivo de soja – que hoje chega a 74% dos municípios de Mato Grosso – comparado à irrisória geração de empregos no setor rural. “Quando se fala em soja não se trata apenas de uma atividade agrícola, mas de um modelo de ocupação”, atenta.

“Esse modelo é perverso para com a agricultura familiar, que é invisível. Muito do que é produzido pelo agricultor familiar não é nem contabilizado. É preciso que os produtores que produzem dez sacas tenham os mesmos direitos que aqueles que produzem dez mil. O camponês tem que ganhar mais visibilidade e respeito” finaliza Antônio João.

O IV Encontro Estadual de Agroecologia e a II Feira de Economia Solidária acontecem até sábado, 06, no estacionamento do ginásio de esportes da Universidade Federal de Mato Grosso. Os dois eventos somam uma extensa programação com oficinas temáticas, rodadas de discussões do GIAS e ECOSOL, visitas programadas de escolas, apresentações culturais e cirandas. Mais informações podem ser obtidas nos telefones (65) 3621 3068 ou (65) 3901 6819.

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