Gisele Neuls/Estação Vida – Mato Grosso precisa despertar para sua própria riqueza florestal. Essa é a principal mensagem da palestra do especialista da Embrapa Florestas Paulo Ernani Ramalho Carvalho sobre o plantio de espécies nativas com fins comerciais. A palestra foi realizada em Cuiabá na manhã desta terça-feira, dia 11. Sinop e Alta Floresta também vão receber o professor para palestras sobre o mesmo tema, além de visitas técnicas.
“Não aceito mais que se plante espécies não tradicionais por falta de informação!”. É assim que o pesquisador da Embrapa, autor de uma verdadeira enciclopédia sobre espécies florestais nativas do Brasil, começa sua palestra. E completa informando que muitas das árvores descritas em quase duas mil páginas de seus livros ocorrem do Cone Sul até o México.
Tradicionalmente, quando se fala em plantio comercial de árvores, as vedetes são espécies exóticas como variedades de pinus, eucalipto e teca. Isto porque para estas espécies já existem informações detalhadas desde a ecologia da espécie até os custos de plantio, manejo e poda e, principalmente, do seu retorno comercial. Plantar espécies nativas, para boa parte dos investidores e profissionais da área, é um risco pela falta de informação.
Ernani põe por terra essa idéia e afirma que o que falta para o Brasil é divulgar as experiências de sucesso que têm com o plantio e manejo de suas espécies florestais. Em Mato Grosso mesmo ele já visitou o plantio experimental da Empaer, em Sinop, e garante que são experiências que precisam ser amplamente divulgadas, porque têm resultados positivos para mostrar.
Segundo ele, no Brasil a taxa de crescimento arbórea é altíssima, superando largamente a maior parte dos outros países. Até mesmo espécies exóticas crescem mais aqui que em seus países de origem, como a teca (Tectona grandis), nativa da Índia. Na sua lista de espécies viáveis economicamente, ele separou 20 que são nativas de Mato Grosso para as quais já existem informações suficientes para começar plantios. O carvoeiro, também conhecido como ajusta-contas, por exemplo, (Sclerolobium paniculatum) está pronto para ser usado como lenha entre 5 e 10 anos e com 12 já está pronto para ser serrado para uso madeireiro. Além disso, ajuda na fixação de nitrogênio no solo e processa seu próprio fósforo muito bem. Para completar, suas flores são excelentes para quem produz mel.
“O paricá, para cada R$ 1 investido, retornam R$ 12 e leva seis anos para crescer”. Mas esta árvore, também conhecida como pinho-cuiabano (Schizolobium amazonicum) é sensível a doenças e não aceita qualquer tipo de solo. Para ser viável, Ernani avisa que deve ser plantado em consórcio com outras espécies, no sistema de agrofloresta. Esta, aliás, é a segunda mensagem transformadora da sua palestra: monocultura de árvores não é o melhor caminho. “Temos que respeitar o que a natureza manda, se na natureza há no máximo oito mognos por hectare, não vai funcionar plantar mais de oito”.
Fomento
O especialista da Embrapa Floresta foi trazido a Mato Grosso por iniciativas do MT Floresta, o Fundo de Desenvolvimento Florestal do Estado de Mato Grosso, administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (Seder). O objetivo é subsidiar as discussões sobre quais espécies o fundo vai fomentar prioritariamente nos projetos de reflorestamento e recuperação áreas de preservação degradadas no Estado. Presente na palestra proferida em Cuiabá na manhã desta terça-feira (11), o secretário de Desenvolvimento Rural Neldo Egon saiu contente.
“Acho que a palestra vai mudar a direção das discussões feitas nas reuniões do Conselho Gestor do Fundo. Se fala muito de plantio de eucalipto e teca e nós estamos vendo aqui outra realidade muito bem colocada pelo professor”, avaliou o Egon, completando: “Essa vai ser uma das primeiras discussões no próximo ano: quais são as espécies que vamos fomentar”.
João Andrade, um dos conselheiros do Fundo, representando o Formad – Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, avaliou que a visita do Prof. Paulo Ernani é um marco importante para as discussões do Fundo e para o futuro do setor florestal no Estado. “Creio que por falta de informação a grande maioria dos conselheiros enxergava as exóticas como a única alternativa viável para o fomento do MT Floresta. Agora temos informações para abrir um leque de opções de exploração de madeiras a partir de espécies nativas com agregação de renda e que também atendem às questões ecológicas e de manutenção da biodiversidade”.
O ciclo de palestras do Prof. Paulo Ernano foi organizado pelo Formad, Instituto Centro de Vida e Secretaria Estadual de Meio Ambiente, com apoio do MT Floresta.
MT Floresta
O MT Floresta foi criado pela Lei 233/2005 e regulamentado pelo Decreto 6.958/2005 como parte da política florestal do Estado. Esse fundo começou a funcionar em 2006 e tem como objetivo atuar nas linhas de fiscalização, recuperação e educação ambiental. Os recursos do Fundo são oriundos do recolhimento da taxa florestal, aplicações financeiras e dotações orçamentárias do Estado, e também pode receber doações. Atualmente, o MT Floresta tem um saldo acumulado de R$ 12 milhões, uma parte dos quais destinada a projetos aprovados para plantio de seringueiras (Hevea brasiliensis).
A distribuição do recurso é feita da seguinte forma: 10% destina-se ao desenvolvimento de pesquisa no setor florestal, 10% para a recuperação de áreas degradadas e das matas ciliares e para a educação ambiental, 15% para apoiar o controle e fiscalização do setor no Estado e 5% para as atividades administrativas do Fundo. Os 50% restantes são destinados às atividades de florestamento, reflorestamento e manejo florestal sustentável.
Saiba mais
Veja publicações sobre o tema no site da Embrapa Florestas
Veja os dados apresentados pelo Prof. Paulo Ernani em Cuiabá (em pdf, 84 KB)