Apesar de décadas de intensa expansão agrícola em seus domínios, o cerrado em Mato Grosso ainda conserva 66% de sua cobertura original. É o que diz levantamento produzido a partir de imagens de satélite pela Embrapa Cerrados – unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, com sede em Brasília (DF).
No país, segundo o “Mapeamento de Remanescentes de Cobertura Vegetal Natural do Cerrado”, o bioma ainda conserva 61% de sua vegetação original. Na estimativa por estados, São Paulo apresentou a pior colocação, tendo preservado apenas 15%. No outro extremo está o Piauí, que ainda mantém 92% de suas áreas.
“Como nosso padrão de ocupação deu-se a partir das regiões Sul e Sudeste, é natural que tenhamos encontrado mais áreas remanescentes em estados mais distantes destes pólos. Até mesmo por conta da dificuldade de acesso”, explicou o pesquisador da Embrapa, Edson Sano, por telefone ao Diário.
O estudo se valeu de 117 imagens obtidas em 2002 pelo satélite Landsat, a partir das quais se produziram 172 cartas cartográficas – cada uma abrange 8 milhões de hectares. Com isso, foi possível mapear e analisar os 207 milhões de hectares reconhecidos oficialmente como áreas do bioma.
Em Mato Grosso, segundo Sano, constatou-se que as áreas destinadas à pecuária representam quatro vezes o percentual das que abrigam lavouras de soja. “Há muitas pastagens degradadas que poderiam servir ao plantio de grãos, proporcionando um aumento na produtividade sem aumentar o percentual de áreas já abertas”.
O percentual de preservação obtido pela pesquisa vem sendo contestado por especialistas e ambientalistas, que o consideram incorreto ou pouco preciso. De acordo com o pesquisador, a alta resolução das imagens permitiu que a Embrapa fizesse a distinção entre áreas de pastos cultivados e de pastagens nativas.
“Diferentemente de outros estudos do gênero, o nosso considerou as pastagens nativas como remanescentes do bioma. Algumas são inclusive utilizadas para a pecuária, mas não sofreram alterações”, apontou o pesquisador.
IRREAL – O ambientalista Vicente Puhl, do Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), disse considerar incorreta a conclusão da Embrapa. Segundo ele, os números da destruição do Cerrado são muito mais significativos. “Mato Grosso já teve 40% de sua área total desmatada. E a maior parte deste desmatamento se deu no cerrado e não na floresta. É impossível que ainda existam 66% de áreas preservadas”.