Marta Tipuici Manoki, do povo Manoki, subiu no carro de som durante a segunda marcha do Acampamento Terra Livre (ATL), na quarta-feira, 26, e fez um pedido ao presidente Luís Inácio Lula da Silva: “você é a nossa única esperança. Demarque a nossa terra!”. A espera pela demarcação já ultrapassa gerações e desde os anos 2000, aguarda apenas a homologação.
Apesar da expectativa, nem os Manoki e nem outros povos de Mato Grosso foram contemplados nessa retomada das demarcações. Os processos da Terra Indígena (TI) Manoki, e da TI Cacique Fontoura, do povo Karajá, estão sem nenhuma pendência jurídica e já podem ser homologados pelo presidente.
A cientista social de 34 anos e mestranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo, ficou com a voz embargada ao lembrar do falecimento dos avós e da impossibilidade de verem a terra demarcada ainda em vida. Enquanto aguardam a homologação, os Manoki vêm acompanhando invasões sistemáticas para retirada de madeira em seu território.
Além da demarcação, Marta Tipuici destacou duas propostas repetidas constantemente durante o ATL: a atualização da bolsa permanência para indígenas que estudam nas universidades federais; além da aprovação do plano de carreira para os servidores da Fundação da Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Confira o depoimento de Tipuici na íntegra:
Gostaria de citar a fala da Célia Xacriabá: antes da coroa já existia o Brasil do cocar. Porque nós somos sementes. Não viemos de lugar nenhum. Nós somos como árvores. Nós nascemos nesta terra, assim como nós nascemos e crescemos na Terra Indígena do povo Manoki.
Quero dirigir a minha palavra ao presidente Lula. Lula: você é a nossa única esperança! Nós estamos desde os meus bisavós que foram expulsos de suas terras, e desde os meus avós que morreram em 2023, 2022 e 2024, com mais de 102 anos, e não viram a nossa terra homologada.
Você é nossa única esperança! Hoje eu tenho trinta e quatro anos e desde que eu nasci da barriga da minha mãe eu luto por essa terra. E você é a única esperança do nosso povo Manoki! Me emociono, choro, os meus avós foram enterrados naquela terra que hoje está sendo loteada, está sendo invadida. Pedimos a demarcação do nosso território.
Além disso, pedimos também o plano de carreira da instituição chamada Funai. Sem plano de carreira não há profissionais que queiram dedicar suas vidas, que queiram jorrar sangue por nós. Precisamos agradecer esse povo que se importa com os povos indígenas que já morreram por nós. Queremos vagas para povos indígenas nessa instituição.
Para encerrar minha fala, quero dizer que sou fruto de uma universidade inclusiva. Sou fruto da inclusão dos povos indígenas nas universidades federais que existem no Brasil. Precisamos de permanência dentro da universidade e o aumento das bolsas de permanência. Ninguém vive com dignidade e forma para defender seu povo com novecentos reais.
Precisamos também desse aumento nas universidades do Brasil. Agradeço a oportunidade de trazer a nossa luta do povo Manoki do Noroeste de Mato Grosso, da Sub-bacia do Rio Juruena, formador do Rio Tapajós.
Créditos das fotos: Larissa Silva/Rede Juruena Vivo