Organizações de Mato Grosso discutem os impactos do agronegócio e do desmatamento no Cerrado

Evento em Brasília (DF) contou com a presença de filiadas do Formad.

Por Victor Nascimento (estagiário OPAN)*

Entre os dias 10 e 13 de setembro, Brasília (DF) foi palco de um grande encontro do Cerrado: instituições, lideranças e comunidades tradicionais de todo o bioma se reuniram para trocar experiências, fortalecer políticas públicas e articular estratégias de proteção ambiental. Representantes de organizações filiadas ao Formad marcaram presença nas discussões, realizadas sob o tema da 11ª edição do evento “Cerrado, berço das águas, coração do Brasil“. O encontro foi realizado pela Rede Cerrado, composto por mais de 60 organizações distribuídas em 12 estados do bioma. 

No âmbito mato-grossense, o espaço foi utilizado por povos indígenas, quilombolas e organizações parceiras para compartilhar os desafios enfrentados pelo estado marcados pela expansão da agropecuária, conflitos socioambientais, queimadas e incêndios criminosos, repressões sofridas pelas comunidades tradicionais, o desmatamento e uso desenfreado e irregular de agrotóxicos.

Foto: Renata Fortes / Campanha Cerrado

Paineis de debate, atividades culturais como o ritual esportivo com os povos indígenas Xavante (MT) e Timbira (região de Maranhão e Pará), a feira da sociobiodiversidade com produtos do cerrado, diversas apresentações culturais de música, dança e arte, são partes da programação do evento que reúne povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais do Cerrado.

Além das discussões sobre preservação ambiental, a união e o trabalho coletivo entre os territórios também foi pauta. A necessidade de discutir projetos de combates inimigos em comum com o avanço do agronegócio em áreas de preservação, o combate a incêndios, os impactos das mudanças climáticas e a pressão sobre os modos de vida tradicionais.

Segundo Cidinha Moura, do Fundo Mato-Grossense de Apoio à Cultura da Semente, a FASE-MT, uma das 34 filiadas do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), é necessário dar maior evidência ao cerrado e seus povos. “É importante também denunciar os impactos e ameaças do agronegócio, da mineração e dos megaprojetos aos territórios do cerrado”, destacou.

Outro ponto de destaque foram as articulações políticas das organizações , que em conjunto, tomaram a frente sobre discussões para elaborar propostas conjuntas e encaminhar demandas aos órgãos públicos responsáveis por políticas ambientais e sociais buscando assegurar o espaço de representatividade e de participação nas tomadas de decisões. 

Na assembleia da Rede Cerrado, que apontou como prioridade o fortalecimento dos núcleos regionais. No caso de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a proposta é intensificar a articulação local, mobilizando novas organizações desses estados para se filiarem à Rede, ampliando a representatividade e a força coletiva na defesa do bioma.

Mas a articulação nacional também teve seu espaço, para Odilia Gomes, secretária executiva da Associação da Gleba Taboca, em São Félix do Araguaia (MT). “É muito importante para a nossa cultura, costumes, e demonstrar para o Brasil que o cerrado é tão importante quanto outros biomas, cerrado que as comunidades tradicionais do cerrado estão em situação de risco.  A articulação em rede nacional é importante para fortalecer a luta entre os povos”. A Associação Taboca é outra entidade do Formad a participar do encontro. 

Em quatro dias, mais de 10 mil pessoas estiveram presentes no XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado. O evento foi encerrado com uma plenária, na qual foram aprovadas recomendações coletivas que deverão orientar ações da Rede Cerrado e de seus parceiros nos próximos anos. Entre elas, destacam-se a defesa do reconhecimento do Cerrado como patrimônio nacional, a pressão por políticas públicas efetivas de proteção ambiental e a valorização dos saberes ancestrais como instrumentos fundamentais para a conservação do bioma.

Leia a carta política do encontro:, clicando aqui.

* Com revisão de Bruna Pinheiro / Formad

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