Segurança alimentar depende da agricultura familiar

André Alves/Formad – Nos últimos meses vários produtos da alimentação básica dos brasileiros vêm sofrendo sensíveis aumentos. É o caso do trigo, feijão, leite e, mais recentemente, o arroz, que só em abril teve alta de 36% e está em vias de ser racionado em países como os Estados Unidos. Em documento lançado há dez dias, a FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação enxerga o incentivo aos agrocombustíveis como um risco ao "acesso à comida dos setores mais pobres", apontando que a expansão das lavouras para combustível ameaça a produção de alimentos.

Para Vicente Puhl, coordenador da FASE – regional Mato Grosso e do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad, o incremento nos agrocombustíveis ainda não é o problema, mas pode agravar a situação da escassez dos alimentos. O maior problema é que o negócio agroalimentar está nas mãos de 15 corporações transnacionais, como a Bunge, Monsanto, Cargill e ADM, que tornam os agricultores dependentes desde o financiamento para compra das sementes, dos agroquímicos até a venda dos produtos voltados quase exclusivamente a exportação, como a soja, em que estas empresas se especializaram. Puhl foi um dos palestrantes na abertura da etapa estadual de Mato Grosso da I Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (I CNDRSS), que acontece nos dias 24 e 25 de abril no Hotel Mato Grosso Palace, em Cuiabá.

A saída para garantir a segurança alimentar, para Vicente Puhl, é o investimento da sociedade e dos governos no fortalecimento da agricultura familiar. "A agricultura familiar tem mais importância do que vem sendo repassado por parte da opinião pública e dos dados estatísticos", destacou.

"Várias culturas que são do dia-a-dia da alimentação são provenientes em grande parte da agricultura familiar", destacou. Entre elas, em Mato Grosso, a banana, o café, o feijão, a mandioca, além da produção de leite. Já outros, como a carne bovina e suína, a cana-de-açúcar e o arroz estão mais concentrados nas mãos dos latifundiários.

Vicente destacou ainda que existem outros obstáculos a serem vencidos para a segurança alimentar. Apesar dessa importância "oculta", a renda média dos agricultores familiares não passa de R$ 290,00 reais ao mês. Um risco apontado é que a agricultura familiar está investindo quase que exclusivamente na produção leiteira. "Existem muitos pequenos produtores familiares que produzem leite para comprar mandioca".

De acordo com Puhl, Mato Grosso precisa efetivamente diversificar sua pauta de investimentos, pois no estado há frutos como o pequi, o babaçu e a bocaiúva, que existem em abundância e que poderiam ser alvo de pesquisas e investimentos por parte do poder público. "Ao investir em produtos nativos e na diversificação da lavoura, estamos aliando a conservação ambiental à geração de renda", afirmou.

Uma proposta que vem sendo bem desenvolvida é o Programa de Aquisição de Alimentos(PAA) da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Por este programa, a Conab adquire alimentos produzidos pela agricultura familiar e destinados a programas sociais e cidadãos, garantindo alimentos de qualidade para merenda escolar, creches, hospitais. A compra é feita por preço de mercado, ou seja, não há subsídios, mas sim valorização dos produtos de origem local da agricultura familiar. uma proposta a ser estuda é a criação do PAA estadual, implantado na Bahia recentemente. Para Vicente, outros estados e centenas de municípios poderiam criar programas similares. E esta é uma das alternativas para garantir alimentos para a população e desenvolver a agricultura familiar, beneficiando quem efetivamente produz alimentos.

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