Agroambiente/ICV – “O objetivo social dos países ricos deve ser viver bem deixando de lado o imperativo do crescimento econômico”. Foi com um discurso forte como esse que o professor do Departamento de Economia da Universidade Autônoma de Barcelona, Joan Martinez Alier, fez a palestra de abertura do VIII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, na noite da última quarta-feira, dia 5, em Cuiabá.
Alier concorda com a ideia corrente em vários movimentos socioambientais de que o norte desenvolvido tem uma “dívida de carbono” com o sul pobre, e que é preciso que os países ricos da Europa, o Japão e os Estados Unidos paguem essa dívida, uma vez que são os maiores emissores per capita. Na conta desta dívida ecológica entram a ocupação gratuita da atmosfera e dos oceanos para depositar emissões desproporcionais de gases do efeito estufa, comércio ecologicamente desigual, biopirataria e mesmo os passivos ambientais de empresas privadas. E acrescenta: “É urgente deixar de queimar petróleo e gás, e deixar de desmatar”.
O economista defende que a economia precisa começar a se preocupar com o bem estar e não somente com o crescimento econômico e o mercado financeiro, e faz uma proposta ousada: uma transição socioecológica do sul para o norte, através de um “suave decrescimento”. Propõe, para isso, que os países diminuam o consumo de combustíveis fósseis, implementem políticas de renda cidadã e valorização do trabalho assalariado para não aumentar o desemprego com o decrescimento; e que se volte para a economia real, na qual os limites ambientais são considerados e respeitados, em outros termos, a economia ecológica.
Para ele, as causas da crise econômica mundial do ano passado tem suas raízes no aumento da demanda por petróleo e na diminuição das fontes disponíveis do combustível. E vê nesta crise uma oportunidade para os países da América Latina, África e Ásia de mudarem suas plataformas de desenvolvimento para uma solução mais ecológica e socialmente justa, incluindo políticas como a taxação das matérias primas que exporta para a Europa e América do Norte pelos custos ambientais da produção. “Os impostos sobre o esgotamento do capital natural e cotas para a exportação, por exemplo, ajudariam o Norte no longo caminho até uma economia mais sustentável, que use menos materiais e energia”.