Luiz Felipe Albuquerque*
O prêmio “Public Eye Awards” (algo em torno de “Prêmio Vigilante Público”), organizado pelo Greenpeace suíço e pela Declaração de Berna, seleciona desde o ano 2000 seis empresas para encabeçar a lista das empresas com a atuação mais nociva para a sociedade, por violar questões relacionadas aos direitos humanos e por cometer crimes ambientais.
Para Fernando Prioste, da ONG Terra de Direitos, a indicação da Syngenta “expressa o modus operandi, a forma com que a empresa busca o lucro. Representa mais uma condenação política do modo com que a empresa atua para ganhar dinheiro, assim como as outras que também estão concorrendo”.
A votação do Public Eye Award 2012 é feita no site do prêmio e vai até o dia 26 de janeiro. (Para votar – clique aqui)
As outras cinco empresas que também concorrem à premiação são a mineradora Vale – segunda maior companhia brasileira e uma das maiores mineradoras do mundo – o banco inglês Barclays, a mineradora norte-americana Freeport McMoRan, a Samsung – maior empresa sul-coreana – e a Tepco, maior empresa de energia do Japão.
Segundo Prioste, violações dos direitos humanos, imposição de pacotes tecnológicos, imposição mercadológica, violações ao meio ambiente, direito à alimentação – em relação aos transgênicos, entre outros – são apenas alguns dos inúmeros motivos que levaram a Syngenta a concorrer ao prêmio de pior empresa do mundo. “São práticas que a Syngenta comete não só no Brasil, mas no mundo todo”, pontua.
Entretanto, ele considera importante ressaltar que práticas como as da Syngenta não estão restritas somente a esta empresa. Apesar de trabalhar com grande fatia do mercado, ela apenas simboliza uma atuação que é comum à atuação do agronegócio.
“A condenação da Syngenta é também uma condenação da Bayer, da Monsanto, que são empresas que competem nesse mesmo mercado e se utilizam das mesmas práticas, relacionadas com os problemas que envolvem os transgênicos, a imposição de um modelo de agricultura e praticam basicamente o mesmo tipo de violação dos direitos humanos”, destaca.
Caso Keno
Entre as diversas práticas exercidas pela Syngenta que exemplificam e credibilizam o status que está recebendo por essa premiação, um caso representativo é o assassinato de Valmir Mota de Oliveira, o Keno.
A Syngenta realizava experiências ilegais com transgênicos e agrotóxicos na zona de amortecimento do Parque Nacional Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná, que levou o MST a promover uma série de ações nessa área. A primeira ocupação da área foi em março de 2006.
Uma ação ilegal de despejo dos trabalhadores promovida pela Syngenta resultou na morte de Keno, no dia 21 de outubro de 2007. Outros trabalhadores rurais ficaram feridos, como é o caso da militante Isabel Cardin, que chegou a perder a visão e tem dificuldades motoras até hoje.
Para o despejo, a Syngenta se utilizou – como era de costume – dos serviços de um grupo armado, que agia sob a fachada da empresa NF Segurança, em conjunto com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR), entidades ligadas aos ruralistas da região.
Prioste acredita que este fato é simbólico por representar “a forma que a Syngenta viu como a melhor maneira de tratar as pessoas que tem alguma posição política em relação à postura que ela adota no mercado de sementes, com a imposição dos transgênicos”.
Após o episódio, o próprio embaixador Suíço Rudolf Bärfuss pediu desculpas à viúva de Keno, Íris Oliveira, com a seguintes palavras. “Em nome do governo do meu país, eu quero pedir desculpas”.
Na ocasião, Íris entregou uma carta ao embaixador exigindo que o governo suíço ajude a punir a Syngenta pelo ato de violência e pelos crimes ambientais dos quais é acusada.
Atualmente, o antigo centro de experimento ilegal da Syngenta, que foi desapropriado pelo governo do estado, é sede do Centro Agroecológico de Experimento de Variedades Crioulas de Sementes sob a direção do Instituto Agronômico do Paraná, IAPAR e a Via Campesina.
FONTE: Página do MST