Caderno de Conflitos no Campo de 2013 é lançado em Mato Grosso no fim de abril

Foto: Cláudia Arajujo

Lançamento em Cuiabá contou com presença de diversos movimentos sociais do campo

Por Maíra Ribeiro

Desde 1985, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) publica anualmente o Caderno de Conflitos no Campo, com o registro e a análise dos conflitos que ocorreram na zona rural ao longo do ano anterior. O Caderno registra casos de violência como assassinatos, tentativas de assassinatos, ameaças, despejos bem como as lutas através de ocupações e manifestações ligadas aos povos do campo, das águas e das florestas. São incluídas comunidades camponesas, tradicionais, indígenas, quilombolas entre outras. “O Caderno de Conflitos é um esforço coletivo de diversas entidades, que coletam informações que são cristalizadas e sistematizadas pela CPT. Assim, pode-se ter uma ideia da gravidade da situação do avanço da fronteira agrícola e avanço do capital no nosso estado” explicou o padre Paulo César Moreira Santos, da coordenação da CPT em Mato Grosso.

No estado, o lançamento do Caderno de Conflitos no Campo de 2013 ocorreu no dia 30 de abril de 2014 na calçada em frente à Superintendência do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Cuiabá com clima de manifestação. Estavam presentes participantes de movimentos sociais e entidades, lideranças e apoiadores das lutas no campo. O evento teve como abertura a mística encenada pela turma de especialização em Residência Agrária da UFMT. O grupo destacou a violência do próprio Estado, finalizando com a forte mensagem: “por todos os nossos mortos, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta”. Neste sentido, deve-se destacar que, de 1985 até 2013, foram levantados 76 casos de assassinatos no campo com 119 vítimas, sendo que destes somente três casos foram julgados e nenhum mandante foi condenado.

As falas durante o lançamento do Caderno denunciaram os conflitos e violência no campo sofridos diretamente por entidades e movimentos sociais em Mato Grosso, com a participação de representantes do Centro Burnier, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Movimento dos Trabalhadores Assentados e Acampados (MTA).

No Brasil, foram 34 assassinatos no campo em 2013, dos quais 15 mortos eram indígenas, incluindo 5 Yanomami em Roraima, 4 Tupinambá no sul da Bahia e 3 Guarani em Mato Grosso do Sul. Este é o maior número de indígenas assassinados já registrado pela CPT. As demais vítimas, num total de 19, são posseiros, sem-terras, trabalhadores rurais, pescadores e assentados.

Os dados do Caderno de Conflitos de 2013 deixam evidente a investida do agronegócio sobre o território e os direitos dos povos indígenas. Neste sentido, Mário, da coordenação do CIMI em Mato Grosso, lembrou em sua fala da morosidade e impunidade na Justiça, da formação de milícias armadas de fazendeiros no Mato Grosso do Sul e do atropelo de dois Bororo em Mato Grosso no ano passado pelo simples fato de que foi retomado o processo de homologação da Terra Indígena Teresa Cristina, já declarada há décadas.

Conflitos no campo mato-grossense

Segundo o Caderno da CPT, no ano passado, houve 33 conflitos no campo, envolvendo 2.150 famílias em Mato Grosso. Destes conflitos, houve 03 assassinatos, 27 ameaças de mortes, 9 presos e 5 agredidos, sendo o quarto estado com mais assassinatos e ameaças do país. Mato Grosso foi o 2º estado da Amazônia Legal com mais despejos, contabilizando 486 famílias despejadas. Foram denunciados 9 casos de trabalho análogo à escravo envolvendo 73 trabalhadores. Foram 5 ocupações realizadas por cerca de 400 famílias em 10.895 hectares e 48 manifestações envolvendo cerca de 3.500 pessoas. Veja os quadros abaixo:

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