Por Bruna Pinheiro/Formad
A esperança por dias melhores é o que move a rotina do músico Adão Cardoso dos Santos. Mesmo tendo perdido o principal instrumento de trabalho em uma enchente este ano, a harpa paraguaia, ele segue acreditando que o melhor ainda está por vir. Defensor do rio Paraguai e integrante da Sociedade Fé e Vida há mais de 20 anos, Adão vem contando com a solidariedade de amigos, familiares e parceiros da música e da luta para arrecadar recursos e comprar uma nova harpa. O valor do instrumento é de R$ 12 mil e por meio de uma vaquinha online, as doações ainda não chegaram à metade.
Filho de paraguaios e nascido na divisa do Brasil com o Paraguai, o Adão da Harpa começou a tocar o instrumento por “pressão” do pai. A família morava em Campo Grande (MS), quando um vizinho que tocava harpa paraguaia se mudou para a casa ao lado. Aos 15 anos, Adão começou a aprender o instrumento e não parou mais. Anos depois, durante o tempo que passou pelo seminário em Ponta Grossa (PR), ele recebeu o incentivo dos padres para que continuasse tocando e aprendendo. Foi por meio de um convite para tocar em uma exposição em Cáceres que o Adão da Harpa “nasceu”. Na cidade, ele fixou residência e se encantou pelas belezas do rio Paraguai e do Pantanal.
Com o grupo “Los Cancioneiros”, a agenda de shows era semanal, com eventos praticamente todos os dias. Isto lhe garantia a renda mensal, que, aliás, é a única de Adão. Até o início da pandemia, ele fazia tratamento da catarata e dentário, e tinha uma cirurgia marcada que teve que ser suspensa. Com o cancelamento de eventos, feiras e shows, o músico viu a renda cair cada vez mais e para driblar a crise, vendeu uma das duas harpas. A outra acabou sendo levada por uma enchente no bairro Dr. Fábio, em Cuiabá, durante fortes chuvas em março deste ano. Adão estava há pouco tempo na capital para aproveitar a retomada de eventos.
“Sem ter nenhum instrumento, eu procurei a pessoa que comprou a minha harpa para propor um aluguel. Hoje tenho que descontar uma parte do meu cachê e passar para ela. Então ainda é pouco, porque minha única renda vem da música. Eu sempre vivi dela”, lamenta.
Diante da situação, um amigo de Adão abriu uma vaquinha online para arrecadar R$ 12 mil, valor suficiente para comprar uma nova harpa paraguaia. Até o momento, a campanha conta com 34 apoiadores e soma R$ 5,7 mil. O link para ajudar está disponível AQUI. Além das contribuições, Adão tem contado com a solidariedade de pessoas que se sensibilizam com sua história e fazem depósitos bancários. “A harpa me faz muita falta. Enquanto não consigo comprar outra, tenho recebido a doação de amigos e parentes para ajudar nas contas da casa, compras e outras necessidades”. Quem quiser se unir a essa corrente do bem, o Pix do Adão da Harpa é 108.864.431-72.
No vídeo, Adão está acompanhado de Vanda e Salomão, da Sociedade Fé e Vida, na beira do rio Paraguai, em Cáceres.
Pantanal – Foi também por um convite que Adão conheceu a luta em defesa do rio Paraguai. O chamado veio da prima irmã, Vanda dos Santos, da Sociedade Fé e Vida. Desde então, nos últimos 20 anos, Adão faz parte do grupo se apresentando em eventos e atividades, além de participar de atos e manifestações. “Trabalhei como músico em vários hotéis à beira do rio no meio do Pantanal. O que víamos há anos atrás não existe mais porque estão destruindo tudo. Lugares onde o rio fazia curva secaram. Nem todos percebem, mas a natureza já está se revoltando contra o homem. O Pantanal não tem dono, é de todos nós. E eu acredito na luta e defesa dele todos os dias.”