Foto: Fábio Pozzebom / Agência Brasil.
Por Bruna Pinheiro/Formad
No último domingo, 2/10, quase 1,9 milhão de votos foram contabilizados em Mato Grosso durante as eleições no 1º turno para cargos do Poder Legislativo e Executivo. Com 68,45% dos votos e bastante criticado por parte de entidades socioambientais, Mauro Mendes foi reeleito para o governo do estado, assim como Wellington Fagundes também garantiu a reeleição ao Senado. Nas cadeiras da Assembleia Legislativa, somente três dos 24 escolhidos carregam bandeiras relacionadas à defesa do meio ambiente. Já para a Câmara dos Deputados, nenhum dos oito eleitos traz essa característica.
Para o secretário executivo do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), Herman Oliveira, a reeleição de Mauro Mendes era “óbvia”, principalmente, por não ter tido concorrência e fatos que pudessem fragilizar sua candidatura. Nos últimos meses, o governador tem recebido muitas críticas na área ambiental por seu posicionamento, a exemplo da sanção da “nova Lei do Pantanal”, que ganhou destaque nacional pelo enfraquecimento da proteção ao bioma.
“Precisamos ver como serão negociadas as secretarias neste governo. Em termos ambientais, há uma possibilidade de piora se for mantida a linha de pseudo transparência e pseudo democracia que vem acontecendo em conselhos estaduais, como o Consema. Se não tivermos regramentos novos dentro do Conselho, teremos muitas dificuldades”, disse.
No Senado, a reeleição de Wellington Fagundes, com 63,54% dos votos pode até ter representado um certo “alívio” para o setor ambiental, uma vez que seu concorrente, Antonio Galvan, é não só aliado do bolsonarismo, como ferrenho defensor do agronegócio. “Ele não tem uma linha ideológica posta e segue alinhado a setores, mas não o vejo como uma pessoa que vai encampar certas lutas no Senado”.
Reeleição de mandatos da esquerda
Para a Assembleia Legislativa, dos 24 deputados escolhidos, o destaque positivo na área ambiental fica pela reeleição de Lúdio Cabral e Valdir Barranco, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT) e que somaram quase 77 mil votos. Em sua atuação nos últimos anos, os parlamentares foram importantes vozes para a defesa de causas ambientais e sociais. Também foi reeleito Wilson Santos, considerado um bom aliado ao setor.
Já para representar o Mato Grosso na Câmara dos Deputados, dos oito federais eleitos, não há um “ícone” de ameaça ao meio ambiente, com exceção de José Medeiros, que possui influência no agronegócio, mas está mais ligado a pautas conservadoras e bolsonaristas. Assim como outros parlamentares eleitos.
“Tivemos uma perda substancial com a não eleição da deputada Rosa Neide, apesar de ter recebido mais de 124 mil votos. Perdemos uma representação combativa e atuante como a dela, que foi de extrema importância nos incêndios do Pantanal de 2020, com a construção de um dossiê e apontamentos de causas e saídas. Mas acredito na continuidade do bom trabalho dos deputados Lúdio e Barranco, que felizmente foram reeleitos”, acrescenta.
Ainda de acordo com o secretário executivo do Formad, embora haja a continuidade de alguns nomes ligados ao bolsonarismo em Mato Grosso, não há uma figura muito atuante na defesa dos interesses do agronegócio. “Olhando para o histórico dos deputados, poucos são propositivos e não possuem muitos projetos aprovados. Com isso, eles acabam se vinculando aos deputados que propõem ao agro, fortalecendo a ‘bancada do boi’, mas eles mesmos não têm capacidade de construir propostas.”
Expectativas para o 2º turno
“O que pode determinar o comportamento mais arrojado e ousado da bancada estadual de Mato Grosso, será o Executivo federal”, pondera Herman Oliveira, que diz que apesar da leitura pessimista de uma parcela da população, o resultado do primeiro turno é positivo. Ao todo, o ex-presidente Lula recebeu mais de 57 milhões de votos, ficando com mais de 6 milhões à frente de Bolsonaro. Após o resultado, ex-adversários do petista na disputa presidencial como Ciro Gomes e Simone Tebet já anunciaram o apoio a Lula.
“Quem perdeu foram os bolsonaristas que acreditavam, inclusive, com incentivo do presidente, de que a vitória seria já no primeiro turno. Acredito que o Lula e o PT saem fortalecidos dessa etapa. O ex-presidente teve mais de 633 mil votos válidos, apenas em Mato Grosso”
Para entidades socioambientais de todo o Brasil, o resultado do 2º turno presidencial é ainda mais esperado, principalmente, pelo posicionamento oposto de Lula e Bolsonaro em relação a questões ambientais. Enquanto o primeiro é visto como uma esperança para recuperar o desastroso cenário criado nos últimos quatro anos, o atual presidente é nitidamente um “inimigo” do meio ambiente.
“Tudo vai depender da vitória do Lula. Embora ele encontre dificuldades no Legislativo, ainda teremos um amparo do Judiciário, mesmo com decisões questionáveis do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Lula ainda pode recompor o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sinasma), nos mesmos moldes em que ele foi destruído, com uma Medida Provisória ou um decreto. Ele também pode recompor a Política Nacional de Meio Ambiente e fortalecer as redes de educação ambiental e reativar o Fundo Amazônia, importante ferramenta para políticas públicas vinculadas ao terceiro setor e outras organizações.”
Não à abstenção!
As eleições para o 2º turno acontecem no dia 30 de outubro. Em Mato Grosso, a votação é realizada das 7h às 16h. O estado ficou com a segunda maior abstenção do país. Por isso, a importância de incentivar o voto!