Kayabis sofrem intimidação de jagunços

Diário de Cuiabá – 27/09/2006

Rodrigo Vargas

 

Da Reportagem

Lideranças de etnia kayabi estiveram ontem em Cuiabá para denunciar ao Ministério Público Federal o acirramento da tensão envolvendo a posse da terra tradicional do Batelão, localizada na região de Juara (690 quilômetros de Cuiabá). Há uma semana, um grupo foi impedido de entrar na área por jagunços a serviço de fazendeiros da região.

A situação foi relatada ao Diário pelos índios Faustino Tucumã e Kanísio Kayabi, moradores da Terra Indígena Kayabi/Apiaká, e também por Tuparan Kayabi, cacique da aldeia Capivara, localizada no Parque Nacional do Xingu.

“A origem do nosso povo está no Batelão. Sempre foi ali. Saímos da aldeia Tatuí, no rio dos Peixes, e remamos por quatro dias com o objetivo de entrar naquela área que é nossa. Mas, perto de chegar, fomos recebidos por mais de 40 pessoas”, relatou Turapan.

O grupo a que o cacique se refere estava de campana na ponte sobre a MT-160, nas imediações do município de Tabaporã. Dele faziam parte, conforme o termo de declaração firmado no MPF, um fazendeiro identificado como Dalton, jagunços e dois policiais militares armados.

“(…) Que viram quando esse senhor Dalton pagou os dois policiais. Que esse Dalton os impediu de prosseguir, perguntando onde estava a Funai (…) Que foram intimidados por todos (…) Que foram avisados que toda a área estava cheia de pistoleiros”, traz um trecho do documento.

A área do Batelão era plenamente ocupada pela etnia até meados da década de 1960, quando os irmãos Villas Boas iniciaram o processo que levou à remoção dos kayabi para o Parque do Xingu. A operação foi concluída em 1966, com a ajuda de aviões.

“Villas Boas prometeu que a nova área seria melhor e muitos acreditaram, mas os velhos não queriam mudar. Muitos achavam que seria uma medida temporária, mas a realidade não foi essa”, diz Faustino Tucumã.

Identificada pela Funai há cinco anos, até hoje a área do Batelão aguarda o início da etapa da demarcação. Enquanto isso não ocorre, denunciam os índios, a área original é dilapidada pelos atuais ocupantes.

“Estão desmatando, implantando monoculturas, retirando madeira, de uma forma que em pouco tempo não vai sobrar nada da nossa área”, denuncia Tucumã. “E agora, quando tentamos entrar na área, recebemos ameaças”.

Os índios chegaram a acampar à beira da ponte onde houve o impasse. Mas decidiram não contrariar a advertência. “Não desistimos. O objetivo é voltar, o quanto antes”.

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