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Ambientalistas bolivianos criticam EIA e afirmam que impactos das hidrelétricas do Rio Madeira chegarão à Bolívia

02/10/2006

Local: São Paulo – SP
Fonte: Amazonia.org.br
Link:
http://www.amazonia.org.br

Pesquisadores bolivianos criticaram na última semana, no Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Bolívia, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da construção das hidrelétricas do rio Madeira, realizado por Furnas e Odebrecht e aprovado no início de setembro pelo Ibama.  Contrariando a versão do EIA, acreditam que o projeto terá impacto em seu país, inundando algumas áreas.

Para Pablo Villegas e Jorge Molina, as represas que serão feitas no rio irão contribuir para “o processo que há décadas está destruindo a Amazônia”.  Em um estudo publicado esse ano, o hidrólogo Molina afirmou que a análise dos processos de sedimentação e erosão nas áreas a serem represadas foi muito superficial, “a enorme carga de sedimentos transportados pelo rio deveria ter sido levada em consideração principalmente na área do Alto Jirau, onde esses processos são intensos”.

Os empreendedores dizem que as represas do complexo do Madeira serão menores do que o historicamente tradicional e que o impacto na região é bem calculado e não chegará ao território vizinho.  No entanto, o foco das análises sempre foi a região entre Jirau e Santo Antonio.  As deficiências nas análises sócio-ambientais apontadas pelos pesquisadores justamente na região que faz fronteira com a Bolívia põem isso em cheque.

Molina completa dizendo que as mudanças de regime hídrico, a queda da qualidade de água e os conseqüentes prejuízos para a população de peixes também não foram estudadas a fundo.  “Todas essas mudanças afetariam as condições de saúde das populações ribeirinhas dos dois países, aumentando a incidência de malária, esquistossomose e doenças relacionadas à presença de mercúrio na água.”

Assumindo a inundação de terras bolivianas como conseqüência certa do represamento brasileiro, Pablo Villegas prevê que serão perdidas áreas de cultivo das populações locais, agravando a questão da falta de terras e anulando “o esforço social de uma década de assentamentos”.  A escassez de terras teria ainda mais um impacto no meio ambiente: o avanço da presença humana nas florestas.

Villegas ressalta que, como 95% das águas dos rios bolivianos vêm dos afluentes do rio Madeira, o represamento colocaria grande parte desse volume sob controle do Brasil, o que “traria problemas diplomáticos, ainda mais num momento de relações tensas entre os dois países como o que estamos vivendo”.

“Enquanto isso, as populações nas áreas de fronteira dos dois países mal sabem do que se passa.  Sindicatos e organizações locais têm quase nada de informação sobre o complexo de infra-estrutura que se planeja construir”, comenta Villegas sobre o desinteresse dos governo de ambos os países em conscientizar essas pessoas dos riscos que podem correr.

Alterações no EIA: processo fechado
As críticas ao projeto são reforçadas por diversas organizações ambientais no Brasil.  Mesmo assim, após pedir várias complementações e identificar pontos fracos, o Ibama aprovou em 11 de setembro o estudo de impactos, que agora será submetido a audiência pública nas áreas afetadas .  “Foi uma decisão de conveniência política do Instituto, que já havia barrado alguns projetos que eram prioridade para a agenda energética do governo, e não queria empacar a construção desse complexo”, diz Glenn Switckes, coordenador da ONG International Rivers Network.

O ambientalista conta que desde abril o Ibama não divulga informações sobre o projeto, “ninguém sabe nada sobre os estudos complementares que foram pedidos, o processo está muito fechado”.  Switckes também faz uma crítica aos métodos de convencimento da opinião pública que têm sido usados pelo empreendedores: “ao invés de fornecer dados suficientes para convencer com base técnica, preferem fazer pressão política, principalmente junto ao Ministério de Minas de Energia”.

Renata Moraes

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