Governo divulga estimativa de desmatamento na Amazônia nos últimos 12 meses

Especiais
Desmatamento 2005-2006
Carolina Derivi

 

Local: São Paulo -SP

Fonte: Notícias da Amazônia

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Link: http://www.amazonia.org.br

 

 

O Governo Federal apresentou hoje uma estimativa de 13.100 km2 desmatados na Amazônia no período de agosto de 2005 a agosto de 2006.  Os dados são do Projeto de Monitoramente do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

 

Com o anúncio, o Inpe atende a uma solicitação do próprio governo brasileiro referente à próxima etapa da Convenção de Mudanças Climáticas, no mês que vem em Nairóbi, no Quênia. Nesse Fórum, o Brasil procura defender a criação de um fundo internacional para compensação financeira de países que conseguirem conter o desmatamento em seus territórios.  Para fortalecer a idéia, os representantes brasileiros precisariam de dados atualizados indicando a queda do fenômeno na Amazônia.

Caso essa taxa se confirme, indicará uma desaceleração de 30% no avanço do desmatamento, em relação a 2004/2005, e seria a segunda menor taxa registrada desde a criação do Prodes, em 1988.  Entretanto, o cálculo se deu com base em 34 imagens de satélite da região amazônica. No ano passado, o INPE também fez um estimativa como essa, mas utilizou 77 imagens (veja mapa abaixo). Isso significa que a amostragem atual é 44,7% menor que a utilizada para fazer a mesma projeção no ano passado.

Note-se também que, mesmo com uma base muito maior de imagens, o resultado consolidado do período 2004/2005 contrariou as estimativas: foi 1.290 km2 maior do que se supunha. Em suma: embora os dados do sistema Prodes sejam produzidos para fornecer o panorama mais confiável do desmatamento, o resultado apresentado hoje está longe de ser definitivo.

Segundo o MMA, as áreas analisadas concentraram, no período anterior, 67% do desmatamento total. Para Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, essa é uma referência perigosa: “Não podemos atribuir muito peso às projeções apresentadas, que carecem de massa crítica para permitir uma avaliação.  Analisar apenas 34 imagens  já é insuficiente como amostragem.  Mas principalmente, ao extrapolar uma projeção a partir dessas 34 imagens, se esquece que o desmatamento migra e, especialmente ao longo dos últimos anos, não tem reproduzido a distribuição geográfica do ano anterior”.

Comparação
Ao ser perguntado porque os dados apresentados para 2006, que compreendem 2/3 da área de abrangência total usada em 2005, não foram comparados com dados referente aos mesmos 2/3 de 2005, o Secretário Capobianco informou que “qualquer entidade pode fazer esta comparação, usando as imagens disponibilizadas pelo INPE.  Foram usadas 34 imagens para o cálculo parcial, apresentado hoje referente à 2006.  Tanto as imagens de 2005 como as de 2006 são georeferenciadas.”  O INPE comprometeu-se, durante a reunião da Ministra Marina com as ONGs, a disponibilizar as 34 imagens de 2006 amanhã em seu site.

O governo afirma que os cálculos gerados a partir de todas as imagens de satélite devem ser apresentados somente no final do ano, juntamente com os números de cada estado e dos principais municípios. Atribuiu o resultado ao Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, lançado em 2004, à criação de 19 milhões de hectares de unidades de conservação, entre outras medidas.  A tendência de queda foi recebida com entusiasmo por alguns representantes do movimento socioambiental e cientistas atuantes na Amazônia.  Entretanto, salientou-se que a área desmatada ainda é muito grande e que a manutenção de queda só será garantida com o fomento a atividades sustentáveis.

No próximo dia 09 de novembro será realizada uma reunião entre governo e ONGs para discutir os dados do desmatamento, fatores de conteção, cenários futuros e também propostas brasileiras para a COP.

Colaborou Maurício Araújo

Área desmatada nos últimos dez anos (em km2)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Área 18. 226 18. 165 21. 205 25. 151 27. 429 18. 793 13. 100

 

 

 

* estimativa preliminar divulgada pelo MCT-INPE da taxa anual de desmatamento

Leia abaixo o depoimento de especialistas e pesquisadores sobre as estimativas de desmatamento na Amazônia para o período 2005-2006

Irving Foster Brown – Doutor em Geoquímica e pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre
“Uma avaliação mais profunda desse número é prematura, pois ainda não há um resultado por estados.  Outro aspecto a se considerar é que a Amazônia tende a apresentar taxas cada vez menores de desmatamento, por haver cada vez menos florestas para derrubar: Em um lugar que apresenta uma taxa de 0% de desmatamento, por exemplo, não necessariamente há florestas”.

Mary Helena Allegretti – Antropóloga e doutora em Desenvolvimento Sustentável pela UnB, é ex-Secretária de Coordenação da Amazônia do Ministério de Meio Ambiente (1999-2003)
“O Prodes indica uma queda significativa nas taxas de desmatamento na região amazônica.  O que mais contribuiu para o resultado foi a crise internacional que derrubou o preço de algumas commodities neste ano, dentre elas, a soja.  A tendência de queda só será consolidada se os números continuarem diminuindo mesmo com o reaquecimento do mercado da soja, o que pode acontecer no ano que vem.  O aumento das atividades de fiscalização é outro aspecto que contribuiu para a diminuição da área desmatada.  Mas apenas o incentivo do governo para a consolidação de mais atividades sustentáveis na região pode trazer uma mudança estrutural na Amazônia, e não apenas uma queda temporária nas taxas de desmatamento”.

Philip Martin Fearnside – doutor em Ciências Biológicas e mestre em Zoologia, é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
“As políticas públicas do governo para a Amazônia deram resultado positivo .  O dado divulgado pelo Prodes é uma boa notícia, se considerarmos que em ano eleitoral o governo costuma afrouxar a atividade de fiscalização na Amazônia para se ocupar com outros temas.  A queda do preço da soja e da carne bovina congelada, bem com a queda do dólar, contribuíram para a diminuição da área desmatada neste ano.  Apesar das políticas bem-sucedidas por parte do Ministério do Meio Ambiente,as obras de infra-estrutura que estão por virpodem acabar contribuindo para um aumento no desmatamento nos próximos anos.  O governo está planejando a reconstrução da rodovia BR-319.  Se esse projeto sair do papel, vai abrir metade da Amazônia e ligará o coração da floresta ao arco do desmatamento”.

Paulo Moutinho – Pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
“As áreas que foram analisadas são as do macro desmatamento amazônico, representam 80% do desmatamento da Amazônia, como no Pará e no Mato Grosso.  Portanto não havería grandes mudanças nessa taxa se fossem englobadas as áreas restantes. Os dados do Prodes confirmam a tendência dos últimos anos, de uma queda constante no desflorestamento na região, o que nos traz uma esperança na possibilidade de melhor controle.  Mas é necessário ressaltar que 13.100 km2 ainda é uma área considerável. A discussão deve mudar o foco, pois mais importante que as taxas é qualificar esse desmatamento, saber qual tem sido o uso dessas áreas para podermos desenvolver ações específicas”.

Beto Veríssimo – Mestre em Ecologia e engenheiro agrônomo, é pesquisador-sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
“Já havia uma expectativa de queda da estimativa de desmatamento para 2005-2006, pois o Deter divulgou recentemente uma taxa de 10.900 km2, e os números do Prodes não costumam ser muito maiores. Essa queda se relaciona com o maior controle por parte do governo, com a criação de Unidades de Conservação em regiões problemáticas como a Terra do Meio (PA), o sudeste do Amazonas e o noroeste do Mato Grosso, e com a crise do agronegócio nesse último ano.  As ONGs também têm contribuído muito com informações para controlar o desflorestamento.A taxa de 13.100 km2 surpreende, já que esperávamos algo em torno dos 15 mil.  No entanto, devemos perseguir taxa zero, 10 mil seria o máximo admissível, tendo em vista que há tantas áreas desmatadas na Amazônia que não estão sendo aproveitadas”.

Colaboraram Eliane Scardovelli e Renata Moraes

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