A medicina popular é um conhecimento tradicional, transmitido geralmente da mãe para a filha, que garante o acesso das pessoas a remédios mais baratos e contribui com a segurança familiar das famílias. No entanto a falta de uma legislação específica, que proteja esse conhecimento e que reconheça o valor das comunidades no tratamento de inúmeras enfermidades, prejudica tanto a cultura quanto atrasa o uso desses medicamentos para um percentual maior da população. Esta foi a linha central da mesa-redonda “Plantas Medicinais e Comunidades Tradicionais do Cerrado”, realizado sábado (25), durante o V Encontro dos Povos do Cerrado, em Brasília (DF).
Para Dulce Vieira, agricultora do Norte de Minas Gerais, valorizar o uso das plantas medicinais é valorizar o conhecimento tradicional. “É um conhecimento que vem das nossas avós e serve para mostrar para a sociedade que tem muita coisa sendo jogada fora mas que são remédios”, aponta. Dulce alerta que muitas plantas estão em risco de extinção por causa do desmatamento apesar delas conterem as propriedades medicinais para o tratamento de muitas doenças. Em sua comunidade, as doenças mais comuns são a gripe, o resfriado e a verminose, tratados com xaropes caseiros.
Para garantir a regulamentação das farmácias populares, foi criado há quatro anos a Articulação Pacari, da qual Dulce faz parte, que congrega cerca de cem organizações dos estados do Tocantins, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Maranhão. A articulação defende também a adoção de boas práticas da medicina popular e da aprovação de uma lei federal que proteja esse conhecimento.
Somente nas farmácias populares que fazem parte da Articulação Pacari, mais de 2.500 pessoas são tratadas todo mês, nos cinco estados. “Apesar desses números, eles não são computados nos dados da saúde oficial”, afirma Dulce, se referindo aos dados divulgados pelo Ministério da Saúde. As farmácias se concentram nas periferias das grandes cidades, nos centros de pequenas cidades e na zona rural. A grande maioria de quem pratica a medicina popular é mulher.
A Articulação Pacari defende a auto-regulação dos raizeiros com três princípios da certeza: Plantas de boa qualidade; boas práticas populares de preparação do remédio e a indicação do uso do remédio. Nestes princípios estão inclusos o cuidado com o meio ambiente, para garantir a reprodução das espécies das plantas medicinais, o cuidado com a higiene para se evitar a contaminação, além de instalações e equipamentos adequados para a produção dos remédios. “O que a gente quer é a garantia de poder continuar produzindo, da forma adequada, remédios naturais baratos”, finaliza Dulce.