Agência Brasil – Pouco mais de um ano depois de sofrer com uma pulverização de agrotóxicos que se espalhou pela área urbana e provocou prejuízos a produtores rurais e problemas de saúde na população, o município de Lucas do Rio Verde (MT), a 354 quilômetros ao norte de Cuiabá, ainda não viu os responsáveis serem punidos.
Um impasse em relação à perícia dos resíduos atrasou as investigações. Até hoje, os moradores não têm respostas sobre a origem e o tipo do veneno usado sobre a cidade.
Nesta semana, quatro entidades do município – o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a Associação dos Chacareiros, a Organização Luverdense do Meio Ambiente (Oluma) e a Fundação Instituto Padre Peter, responsável pelo horto medicinal da cidade – vão pedir providências ao Ministério Público, que até agora não encaminhou à Justiça de Mato Grosso a denúncia sobre o caso que afetou o segundo maior produtor de soja do Brasil e foi relatado em uma série de reportagens da Agência Brasil em 2006.
Responsável pela condução do inquérito no Ministério Público, a promotora Patrícia Eleutério Campos, está em viagem e só retorna na próxima semana. No entanto, o órgão informa que o processo não avançou porque a perícia da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), para onde as amostras contaminadas foram enviadas, até hoje não ficou pronta.
Médico mestre em saúde pública da UFMT, Wanderley Pignati foi um dos responsáveis pela análise dos resíduos tóxicos. Segundo ele, o atraso na coleta da água e dos vegetais pela Secretaria do Meio Ambiente de Lucas do Rio Verde, além de divergências com as autoridades estaduais e municipais, comprometeram o resultado da perícia.
Ele diz que os primeiros resultados não detectaram a presença do veneno Paraquat, herbicida usado para apressar a secagem e a colheita da soja e que pode causar vômitos, diarréias, dores de cabeça e, a longo prazo, até câncer.
“A gente precisava analisar a presença de outros tipos de veneno, mas nem a prefeitura de Lucas do Rio Verde nem a Secretaria de Saúde do estado quiseram custear essas novas pesquisas”, afirmou Pignati. “Como a essa altura os resíduos já evaporaram, não adianta mais repetir a perícia”.
Em meio ao jogo de empurra, a população é obrigada a conviver com as conseqüências negativas dos agrotóxicos. “Nos últimos tempos, vários aviões pulverizadores têm sobrevoado a cidade”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Nilffo Wandscheer.
Após o incidente do ano passado, a Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso proibiu aeronaves pequenas de sobrevoarem o espaço urbano do município. “Parece até provocação”, acrescenta Wandscheer.
O especialista da UFMT anuncia novidades. De acordo com ele, a universidade fechou dois convênios, um com a Fundação Oswaldo Cruz e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outro com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Mato Grosso (Fapemat), para fazer uma nova perícia na água, no ar e nos vegetais da região.
As análises em parceria com o governo federal, acrescenta Pignati, começam em maio. A pesquisa com apoio do Fapemat foi aprovada, mas o cronograma de liberação dos recursos ainda não foi definido. Por causa dos procedimentos complexos, as pesquisas devem durar pelo menos dois anos.
“Desta vez, o procedimento será bem diferente, porque em vez de nos concentrarmos em apenas um veneno específico, vamos analisar a presença de 27 tipos de agrotóxicos no município”, explica o médico. Ele pondera que a demora proporcionará resultados confiáveis, que vão servir de referência para analisar o impacto dos agrotóxicos não apenas em Lucas do Rio Verde, mas em todo o norte do Mato Grosso.
“A falta de controle das pulverizações, na verdade, é um problema de toda a região e se repete todos os anos na época da colheita”.