Começou a segunda Formação de Agentes Sociambientais da Bacia do Xingu promovida pela campanha ‘Y Ikatu Xingu, de proteção e recuperação das nascentes e matas ciliares do Rio Xingu no Mato Grosso. O primeiro módulo aconteceu de 26 a 29 de junho, em São José do Xingu, com a participação de 42 pessoas, entre agricultores familiares, médios e grandes produtores, professores, sindicalistas, agentes de saúde, gestores públicos e estudantes de oito municípios – Santa Cruz do Xingu, Confresa, Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte, Querência, Vila Rica, São Felix do Araguaia e São José do Xingu.
Nessa primeira etapa, foram abordados diversos aspectos da cultura agroflorestal e florestal, o ciclo da água, as habilidades conceituais, sociais e técnicas fundamentais para a formação da liderança socioambiental, o papel do agente multiplicador nas relações sociais e em iniciativas ambientais. Os participantes identificaram sementes e espécies florestais e observaram a fauna local. Os exercícios confirmaram a grande diversidade biológica da região: num espaço de 5 x 5 metros, foram encontradas até 17 espécies diferentes, com mais de 50 indivíduos. O chamado modelo sucessional, que usa o princípio da sucessão ecológica entre as espécies no desenvolvimento de sistemas agroflorestais, também foi apresentado.
De acordo com a coordenação do projeto, os conhecimentos sobre esses temas serão importantes para as atividades que os participantes já exercem e em novas iniciativas. A idéia é “conhecer para entender e preservar”. Parte desses conhecimentos foi colocada em prática durante a implantação de uma horta agroflorestal. Outro princípio básico da formação é valorizar os conhecimentos e experiências trazidas pelos participantes. O próximo módulo do projeto acontece de 22 a 26 de outubro.
“Não há mais espaço na sociedade para um modelo antigo de produção. Não podemos ser cegos e surdos às alterações que estão acontecendo na natureza”, defende Fokko Heinrich Schwabe, produtor de soja de Santa Cruz do Xingu que está participando do projeto. A expectativa do engenheiro agrônomo ao formar-se agente sociambiental é conscientizar outros agricultores e mostrar que é possível produzir e preservar ao mesmo tempo. Fokko acredita que a tarefa não será fácil. “O pessoal costuma associar meio ambiente com multas e punições”. De acordo com ele, mudar essa mentalidade e conseguir mobilizar as pessoas em defesa das nascentes vai depender muito de quem está conduzindo a mobilização e de como o problema é apresentado.
Fokko já desenvolve algumas iniciativas em sua fazenda de 3,6 mil hectares. As matas de beira de rio da propriedade estão todas preservadas. O produtor tem o cuidado de não captar água diretamente no rio para realizar a pulverização de agrotóxicos e faz o reflorestamento para produzir lenha. Ele considera que o trabalho com as crianças e escolas é fundamental. “Não teremos resultados imediatos, mas podemos ir mudando as coisas gradativamente, formando adultos mais conscientes.”
O grupo de formandos de Santa Cruz do Xingu já começou a se mobilizar. Nesta semana, a campanha ‘Y Ikatu Xingu começou a ser divulgada nas cinco escolas do município. Até outubro, deve acontecer um campeonato entre os alunos de coleta de sementes de espécies nativas. O vencedor vai ganhar uma bicicleta.
Os formandos pretendem colocar em prática idéias que possam ser implementadas rapidamente e não dependam de projetos ou recursos externos. “Não vamos criar dificuldades para agir. Podemos fazer isso agora. Depois vamos ampliando, melhorando”, conta Fokko.
O primeiro módulo da formação foi coordenado por Rodrigo Junqueira, assessor da campanha, e Fabiana Peneireiro, consultora do projeto. Contou também com a participação de representantes do Fórum Mato-grossense pelo Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FORMAD) e do Instituto Socioambiental (ISA). As inscrições para participar do projeto foram concorridas. Cerca de 200 pessoas passaram pelo processo de seleção.
A primeira formação de agentes socioambientais na Bacia do Xingu aconteceu de outubro de 2005 a novembro de 2006 e reuniu 50 pessoas de Nova Xavantina, Água Boa, Canarana, Gaúcha do Norte, Querência e Ribeirão Cascalheira.