André Alves* – Há tempos a mídia estava ávida pelos dados que o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) divulgou na semana passada. O desmatamento voltou a correr solto na Amazônia. Junte-se a isto a convocação imediata pelo presidente Lula para debater o assunto e as medidas anunciadas pelo Ministério do Meio Ambiente para controlar de forma mais rígida os 36 municípios (19 em Mato Grosso) responsáveis por 50% do estrago na Amazônia, que foram mal interpretadas por boa parte da mídia e dos ruralistas. Pronto. Temos o cenário perfeito para confusões e ataques.
O primeiro a esbravejar foi o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, questionando os números divulgados e a credibilidade do Inpe e acusa o governo federal de querer só ver a culpa nos produtores rurais. Lula por sua vez acusa o Inpe e o MMA de terem se precipitados e diz não ser possível culpar ninguém pelo desmate. Já a ministra Marina Silva, que sobrevoou com Maggi e outros ministros algumas das áreas devastadas em Mato Grosso, afirma que a situação é preocupante.
A troca de acusações e o jogo de empurra tiraram da discussão o que deveria ser o seu centro. Como conter o avanço do desmatamento, identificar suas causas e responsabilizar os culpados. Ficou evidente que a queda de braço vai continuar e que pode servir para desgastar ainda mais a imagem do governo, principalmente porque as restrições impostas aos municípios que mais desmatam pode ser apenas placebo se não se avançar nas causas e na responsabilização dos culpados.
Não é difícil saber quem são os culpados pelo desmatamento, embora seja muito difícil entender sua lógica a não ser a de que no Brasil compensa desmatar ilegalmente. Difícil de engolir o questionamento de credibilidade do Inpe, mesmo porque o Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia – Imazon e Instituto Centro de Vida – ICV também fazem a análise do desmatamento no Mato Grosso mês a mês. Os números a cada período muitas vezes divergem, mas a soma de agosto a dezembro dos dados pelo Inpe e pelo Imazon é bem parecida. E o mais incrível é que ambas as análises concluem que houve diminuição no desmatamento nos últimos seis meses do ano de 2007 se comparado com o mesmo período de 2006, apesar dos números de novembro e dezembro do Inpe.
As causas desta possível nova onda de desmatamento é, no entanto, muito mais complexa do que analisar as imagens de satélite. O desmatamento foi por causa do retorno das condições favoráveis ao plantio de soja? Por conta do estímulo do governo federal ao agrocombustível? Da expansão da cana-de-açúcar? De uma migração dos cultivos? Da especulação fundiária e grilagem? As respostas não foram respondidas e vão continuar assim se o governo federal não investir em analisar toda a cadeia produtiva rural.
Por outro lado, a responsabilização dos culpados é bem mais simples, em teoria. Com extrema precisão as imagens de satélite permitem saber onde foi desmatado e os órgãos estaduais e federal podem identificar os proprietários. Bastaria punir. No entanto, este é o elo mais fraco da corrente das políticas ambientais. Muitos são notificados, poucos são multados e quase ninguém paga multa. Imagine medidas mais drásticas…
* André Alves é secretário-executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad e membro do Núcleo de Ecojornalistas dos Matos – NEM