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Governo aumenta agropecuária na Amazônia

A Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do Território Nacional, uma c&aacirc;mara interministerial composta por 13 ministérios, modificou a área de reserva legal no entorno da BR-163, que liga Santarém (PA) a Cuiabá (MT), e da Rodovia Transamazônica, a BR-230.

O GLOBO – O governo federal aprovou nesta quinta-feira uma medida que, na prática, vai ampliar as áreas de agricultura e pecuária na Amazônia e diminuir as exigências de replantio de floresta em áreas degradadas. A Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do Território Nacional, uma câmara interministerial composta por 13 ministérios, modificou a área de reserva legal no entorno da BR-163, que liga Santarém (PA) a Cuiabá (MT), e da Rodovia Transamazônica, a BR-230.

Pela decisão, as propriedades rurais da região próxima às rodovias terão sua reserva legal reduzida de 80% (exigido em todo o bioma amazônico) para 50%. Ou seja: quem já desmatou terras no entorno das rodovias não será mais obrigado a reflorestar 80% da propriedade, como determina a legislação ambiental, e sim, 50% da fazenda. Com isso, cerca de 700 mil hectares deixarão de ser replantados com árvores nativas da Amazônia e poderão ser usados para a agricultura.

Minc defende mudança, mas não participa de votação

A decisão ainda terá de ser aprovada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e depois virar um decreto presidencial. Mas a aprovação na câmara interministerial foi unânime e teve parecer favorável elaborado pelo próprio Ministério do Meio Ambiente. A área sujeita à mudança corresponde a 30% dos 33,4 milhões de hectares que estão sob influência da BR-163, em 19 municípios do Pará. Um representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior admitiu que a decisão “abre um precedente muito positivo”, que pode acabar sendo replicado em outras áreas. Para o Meio Ambiente, porém, a mudança impedirá o avanço do desmatamento. – Aparentemente é uma flexibilização, mas, objetivamente, você ganha mais condições de cumprir a lei – alegou Roberto Vizentin, diretor de Zoneamento Territorial do ministério. A nova área de reserva legal já foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Pará e virou lei estadual sancionada pela governadora Ana Júlia Carepa (PT). O Código Florestal permite essa possibilidade, desde que o estado já tenha feito o Zoneamento Econômico-Ecológico e que a área já esteja bastante degradada.

O Mato Grosso, na outra ponta da BR-163, ainda está fazendo o zoneamento, mas também reivindicou a diminuição da reserva legal no norte do estado, dentro do bioma amazônico. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participou apenas da primeira parte da reunião, mas deixou a discussão quando este assunto entrou na pauta e não votou.

Ele defende a implantação de um distrito florestal antes que a obra saia, e lembra que o anúncio do asfaltamento da BR-163 triplicou o desmatamento na região. No entanto, Minc também acredita que a diminuição da reserva será um ganho ambiental: – Nessas áreas, o desmatamento é de 90%. Quando você diz que essas áreas podem usar 50% para produção, que para ficar legal tem que reflorestar, ele vai ter que demarcar APP (Área de Preservação Permanente, como encostas de morros e beiras de rios) e replantar 40% com nativas. A regra só valerá para quem desmatou até 2005, ano em que o Pará aprovou a lei de macrozoneamento.

Greenpeace condena redução de reserva

O Greenpeace condenou a redução da reserva legal de propriedades rurais do entorno da BR-163 e da BR-230. Para a ONG, a decisão dá um aval aos desmatadores e legitima o crime ambiental por eles praticado até 2005. – O que me assusta é que já existe essa decisão, e o zoneamento vai valer como carimbo e legitimação. O problema da BR-163 é que ela foi aberta nos anos 70, ficou anos abandonada, e quando foi anunciada sua retomada houve um processo de grilagem e acirramento dos conflitos. A decisão me parece desfocada, isso é só para legalizar a devastação que já está lá – avaliou Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace.

A ONG diz que a questão não é a extensão da área destinada à preservação, e sim a falta de fiscalização. Para Leitão, o argumento do governo de que a medida ampliará a legalidade é desculpa para explicar sua incompetência: – A reserva legal já foi de 50%. O problema não é ser 50 ou 30 ou 20, é não ter fiscalização. Falta governo. Isso é argumento da burocracia para justificar sua falta de ação. O governo está sempre procurando uma desculpa para justificar o que não foi feito, para justificar seus erros. Essa recomendação da redução de reserva legal é para perdoar o passado, e não para evitar que aconteçam novos crimes.

O parecer do Ministério do Meio Ambiente pela redução da reserva legal faz um resumo do trâmite percorrido no Pará antes de o texto chegar à esfera federal. Diz que a mudança foi aprovada pela sociedade civil e por ONGs ambientalistas. O Pará foi o estado que registrou mais desmatamento no ano passado, com 5.180 km de florestas devastadas. No total, 11.968 km foram destruídos na Amazônia. O macrozoneamento do Pará determinou que pelo menos 65% do território do estado serão destinados a áreas protegidas e no máximo 35% para consolidação e expansão de atividades produtivas.

Segundo Minc, até até mesmo os empresários agrícolas têm cobrado do governo regras claras para a região. Minc avaliou que, uma vez traçada o que chamou de “fronteira de legalidade”, será possível saber ao certo quem vai receber crédito, apoio técnico e estímulo para produzir na Amazônia. E quem insistir em permanecer à margem da lei, segundo o ministro, receberá “a mão pesada” da Polícia Federal, do Ibama e do Exército Brasileiro. – Essa é a forma de preservar a Amazônia, olhando para o desenvolvimento sustentável.

Para Minc, entretanto, a estratégia de efetivar o zoneamento econômico e ecológico para cada um dos nove estados que compõem a região possibilita que a preservação na Amazônia não aconteça apenas “com polícia”, mas por meio do ordenamento do desenvolvimento.

– Cada um dos zoneamentos determina, por exemplo, áreas que devem ser protegidas, áreas degradadas e que devem ser recuperadas, áreas propensas a alguma atividade industrial. É a idéia de um ordenamento que combine a preservação com a atividade. Afinal, 24 milhões de pessoas moram na Amazônia e têm que ter uma vida digna, uma ocupação, uma renda – afirmou o ministro.

Sobre a BR-163, Minc classificou a região que corta a rodovia como “desastre ecológico” e “desgraça”, e ressaltou que todas as medidas adotadas para a futura BR-319 foram pensadas de maneira que a devastação não tome conta do local como ocorreu com a BR-163.

Segundo o ministro, desde 2005 – ano em que a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já havia previsto a idéia de um corredor ecológico para a região – o desmatamento na BR-163 triplicou. – Estive lá mais de três vezes. Temos leilão de boi pirata, de madeira pirata, prendemos gente. Mas voltamos um mês depois e está a mesma desgraça. A situação lá é muito preocupante. Conseguimos um recurso de oito milhões de euros da comunidade europeia para implantar o distrito florestal da BR-163, mas a diferença tem que ser implantar previamente as defesas. Elas não podem ficar no papel – disse.

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