Iberê Marti* – Qual a diferença entre o certo e errado? Esse foi a primeira grande pergunta que me surgiu, logo, que entrei na Universidade. Será que todos os valores estão trocados? Sempre que se egressa no Ensino superior, e o inegável sentimento de superioridade. Sentimento que vai se desfazendo com o tempo, o mesmo tempo que passa, e passa, e passa, e cresce a descrença, surgindo a certeza que existe uma incrível força que impede que as coisas aconteçam.
Da mesma forma que, surgiu esse sentimento que as coisas não deixam de acontecer por acaso. Veio a militância no Movimento Estudantil, muitas vezes criticado, muitas vezes humilhado, muitas vezes desacreditado, muitas vezes ofendido, muitas vezes motivo de ‘piadas’, muitas vezes…Mas, existe algo maior, algo que faz continuar e persistir mesmo sabendo que muitas vezes a luta pode ser é em vã.
A principal característica do Movimento Estudantil é o inegável caráter de Movimento social, com apenas uma diferença, e talvez a mais cruéis delas, ser um Movimento social cíclico, as pessoas militam por quatro, cinco anos, alguns menos, outros mais, mas por um período de tempo inegavelmente curto. E passasse mais tempo, desse curto tempo, tentando entender o processo, do que lutando efetivamente para que as coisas aconteçam. E quando começa a sacar as regras do jogo, você esta fora, e vêm outros repetir o mesmo processo.
Este é um fato inegável, assim como é inegável que existem forças que utilizam dessa suposta inocência para que realmente as coisas não aconteçam. A palavra que aprendi nesse contexto Universitário, e que com certeza mais me abalou, foi: O Corporativismo.
E com são corporativos dos segmentos caninamente servidores do capital e de sua vertente de desmobilização social…e o Segmento.
Não fosse os poucos Estudantes que se envolvem realmente com a Universidade, seria uma ditadura legalizada, cheia de palavras bonitas em seus princípios, meios e fins. Mas que na prática é o contrário dos princípios que deve ter. A democracia nas Universidades, e na Universidade, tem um objetivo claro e especifico de legalizar o processo (ditatorial) no papel. Na realidade, as coisas são bem diferentes do que afirmam ser.
E assim será, inclusive amparado pela LDB, que garante ao Segmento Docente no Maximo 70% de participação nos Conselhos e Colegiados da Universidade. O problema é que o Maximo previsto em Lei, se torna mínimo. E segue o corporativismo.
Democracia que chega ao absurdo de garantir aos cargos de confiança o direito de voto em Conselhos Universitários. E quando questionados, a resposta é extremamente convincente: eles são Gestão, não foram eleitos, mas são gestão. Apesar de não elegermos gestão e muito menos cargos de confiança, e sim REITOR, Magnífico Reitor!!!
É justamente nesse ponto que surge o novo enfoque de luta do Movimento Estudantil, direitos conquistados por militantes no passado, sob sacrifício inclusive vidas. O Movimento Estudantil do passado, que lutou pelas Diretas já; que lutou pelo fora Collor, não acabou como dizem por aí.
Ao contrario, agora, ele ganha nova força e motivação: a Luta pela Democracia de fato; a luta pela utilização correta e coletiva do que é público, em defesa do Ensino público, gratuito, laico de qualidade, que ofereça o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável. A luta do Movimento Estudantil hoje, é para que os direitos conquistados no passado tomem vida também fora do papel e se tornem realidade.
E é justamente pelo caráter de Movimento Social, que surge a obrigação do Movimento Estudantil questionar a forma- na prática- que são o ensino, a pesquisa e a extensão na Universidade. Afinal, é uma instituição que tem caráter de pública, financiada por dinheiro da sociedade. Até que ponto que ponto a Universidade abre as portas à sociedade? Talvez importuno, mas como saber o que pesquisar se não conhecemos os anseios e desejos da população? Como é possível a extensão – transmitir conhecimentos úteis a sociedade – sem a comunicação?
A Universidade dentro do processo de construção da democracia se perde (ou se encontra) em várias lacunas, tanto internas quanto externas. Que surgem desde o corporativismo até mesmo o medo de não cumprir com sua função, o medo de se auto-avaliar e de ser avaliado. E isso, faz com que Governos- de forma oportuna- os mesmos que investem míseros R$360,00 reais por estudante/mês-tendo este inclusive como gasto, não investimento como deveria-perguntar em forma de indagação: – de que serve a Universidade (UNEMAT)?
Realmente de que serve o investimento na “criação” e difusão do saber? Passo fundamental ao processo de transformação, do surgimento de uma sociedade igualitária e justa. Mas, se não conseguimos difundir, estender e/ou comunicar, como podemos cobrar mais investimentos?
Talvez com mais perguntas e questionamentos que respostas, talvez com mais dúvidas que afirmações, talvez democrático que autoritário, finalizo este texto com uma proposição – sendo este um dever se considero o Movimento Estudantil verdadeiramente com caráter de movimento social.
Que a sociedade cobre da Universidade o seu papel. Que mais que cobranças, que a sociedade se envolva – participando das decisões, dando sugestões, contribuído com o desenvolvimento acima de tudo vivenciando a Universidade.
Se quisermos democracia, muito além de cobranças, devemos nos envolver e participar do processo de conquista! A Universidade do universo, somente cumprirá com seu papel, quando romper as barreiras e conseguir envolver a sociedade em seu processo de construção. A Universidade somente será democrática, quando rompermos esses murros invisíveis que existem-que refletindo um pouco com um olhar mais atento, nem tão invisíveis assim! A Universidade somente será democrática, quando for “A Universidade do povo, pelo povo e para o povo”.
* Iberê Marti – acadêmico de Engenharia Florestal da Unemat de Alta Floresta