Amazônia em crise: o avanço do desmatamento nos grandes jornais do Brasil
Clarissa Presotti Guimarães Carvalho
Dissertação de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da
Universidade de Brasília.
Resumo
O presente estudo avalia a cobertura do desmatamento da Amazônia brasileira feita pelos jornais de circulação nacional do País. Para tanto, foram selecionadas matérias de três jornais impressos (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo), especificamente em três períodos de divulgação das taxas de desmatamento: 2005, 2007 e 2008. Por meio da análise de conteúdo, foi realizada uma avaliação quantitativa considerando os seguintes aspectos: o universo de notícias veiculadas, as fontes de informação consultadas, os grupos de atores citados, os temas considerados, os focos principais e as causas do desmatamento abordadas.
Observou-se uma oscilação no número de matérias entre os períodos analisados e uma diferenciação da cobertura dos jornais pesquisados. Em 2008, houve uma intensificação da cobertura pela imprensa, respondendo cerca de 60% do universo de matérias analisadas. A concentração da discussão aconteceu principalmente na Folha de São Paulo e no Estado de São Paulo, responsáveis por mais de 80% da amostra no período de 2008. As fontes de informação governamentais prevalecem amplamente nos textos pesquisados, enquanto que a pluralidade de vozes e a diversidade de temas relacionados ao desmatamento são pouco consideradas, variando conforme as conjunturas de cada período. Os resultados deste trabalho demonstram que a mídia tem tido dificuldades para distinguir a informação científica relevante daquela produzida sob a influência da disputa de interesses. Profissionais da comunicação e especialistas, entrevistados no decorrer deste trabalho, apontam algumas falhas na cobertura do desmatamento da grande imprensa, como o tratamento descontínuo do assunto pelos jornais, a falta de qualificação dos jornalistas e a carência de investimentos dos veículos para a realização de reportagens mais aprofundadas e qualificadas. Ao mesmo tempo, os entrevistados consideram que se abre uma nova janela para um jornalismo mais comprometido com as questões socioambientais globais.