Maria Elisa Corrêa – Estação Vida – O abismo entre as propostas para a sustentabilidade do Brasil e o modelo de desenvolvimento vigente ainda é profundo e mudanças em muitos setores não estão ocorrendo como necessário. Para Jean-Pierre Leroy, coordenador do projeto Brasil Sustentável e Democrático, refletir sobre o modelo de desenvolvimento adotado pelo país e questionar o discurso comum, é o primeiro passo na caminhada em busca de novas alternativas.
Leroy, que também é assessor da Fase – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, esteve presente no dia 3 de agosto no Seminário O Desafio de Mato Grosso Sustentável e Democrático, realizado em Alta Floresta. O evento, realizado pelo Formad – Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, com apoio do CASA – Centro de Apoio Sócio Ambiental, ICV – Instituto Centro de Vida, Sociedade Formigas e Instituto Floresta, abriu espaço para discussão sobre a necessidade de um desenvolvimento mais justo, igualitário e responsável com as questões ambientais no país e, em especial, em Mato Grosso.
Para Jean-Pierre, sustentabilidade não é algo entregue de maneira pronta e estruturada, e sim um exercício de democracia. “Sustentabilidade é um processo onde cada um diz o que quer para sua cidade, seu estado e seu país. E hoje, quem define as necessidades das pessoas são aquelas que vivem em altos padrões”, acrescenta Leroy.
Na avaliação de Laudemir Zart, professor da Unemat – Universidade do Estado de Mato Grosso e coordenador do programa de Educação e Socioeconomia Solidária da universidade, a criação de modelos alternativos de desenvolvimento deve se fundamentar no respeito à natureza e à cidadania. Quanto mais altos são os índices de degradação da natureza, mais desrespeitada e violentada se encontra a sociedade.
“Não temos uma forma de organização social, política, econômica, ecológica que dissocia a violência contra a natureza da violência ao ser humano. Quando você tem índices de extrema violência em relação a natureza você também tem essa mesma característica em relação ao ser humano”, ressalta o professor, que também é um dos idealizadores do Projeto MTSD – Mato Grosso Sustentável e Democrático, realizado pelo Formad em parceria com a Unemat e outras 21 entidades.
Desafios
Jean-Pierre Leroy apresenta três desafios que o país precisa superar para alcançar a sustentabilidade: cidadania, democracia e igualdade; reorientação do modelo de desenvolvimento econômico primário exportador e; reorientação do modelo de produção e de consumo.
“O Brasil precisa resgatar com urgência o debate democrático, no qual os de baixo terão e palavra e a sociedade vai dizer o que realmente quer. Nossa economia continua subordinada aos países ricos. Acreditamos que se desenvolver é exportar, mas na verdade estamos dando suporte para que outros países se desenvolvam. Precisamos produzir o que as pessoas realmente necessitam para viver, produtos de longa duração. Se o Brasil é o campeão em reciclagem, ele também é o campeão em consumo e produção de lixo”, explica Jean.
MTSD
Dentro da programação do seminário aconteceu o lançamento do Caderno Mato Grosso Sustentável e Democrático, produzido pelo Formad, disponível para download. Os seis artigos da publicação buscam promover o debate sobre o atual desenvolvimento e construir as bases de um modelo que considere além da questão econômica, os aspetos humanos, sociais, culturais e ambientais.
www.formad.org.br/arquivos/File/caderno_mtsd_formad.pdf
O MTSD é a sistematização das discussões realizadas por diversas organizações da sociedade civil e instituições de ensino superior em torno do seminário “Brasil e Mato Grosso Sustentáveis e Democráticos”, realizado em setembro de 2002. O projeto pretende promover o debate sobre o atual modelo de desenvolvimento em Mato Grosso e construir bases de um modelo sustentável. O MTSD conta com a participação de 21 entidades, organizadas em 11 Grupos de Trabalho (Gts): extrativismo vegetal e animal; mineração; recursos hídricos; cidades; agricultura; agro-indústria; educação; turismo; terras indígenas, unidades de conservação e; infra-estrutura (energia, estradas, comunicação).