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Agropecuária: vilã e vítima das mudanças climáticas

A soja é cultura que deve sofrer maior impacto com a elevação de temperaturas; no pior cenário, o principal produto de exportação do Brasil pode apresentar perdas de R$ 3,9 a 4,3 bilhões em 2020.

Sérgio Henrique Guimarães/Blog ICV* –  Um estudo realizado recentemente pela Embrapa e Unicamp (Aquecimento Global e a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil) afirma que se nada for feito para reduzir os efeitos das mudanças climáticas, o aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global pode provocar perdas nas safras de grãos de cerca de R$ 7,4 bilhões, já em 2020. A soja é cultura que deve sofrer maior impacto com a elevação de temperaturas; no pior cenário, o principal produto de exportação do Brasil pode apresentar perdas de R$ 3,9 a 4,3 bilhões em 2020.

Na verdade esses resultados confirmam o que já foi anunciado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) em 2007, que a produção de alimentos em todo o mundo poderá sofrer um “impacto dramático” nas próximas décadas por conta das mudanças climáticas. Que todos os países serão afetados e os grandes produtores agrícolas, como o Brasil, sentirão os efeitos já na próxima década.

No Brasil, o quarto país maior emissor – ao contrário do resto mundo, onde a maior parte das emissões são oriundas dos combustíveis – o desflorestamento e a agropecuária são responsáveis por cerca de 75% das emissões, principalmente pelo desmatamento e queimadas na Amazônia. Logo, a agropecuária brasileira e mais especificamente da Amazônia, está no centro dessas questões: tanto como o maior indutor do desmatamento, portanto um dos “vilões” causadores do aquecimento global; quanto por ser uma das maiores “vítimas” desse grave e complexo problema, que pode comprometer de forma dramática a produção agrícola, a economia e as condições de vida no Brasil.

Mas se é parte importante do problema, também pode e deve ser parte essencial das soluções – até porque esses cenários só ocorrerão se nada for feito para a redução das emissões e dos seus impactos.

Nesse sentido, as conclusões dos estudos são muito claras quando afirmam que cabe ao setor trazer soluções para minimizar o problema. Sendo a principal delas adotar práticas que impeçam o avanço do desmatamento para novas áreas de plantio. Que os milhões de hectares de pastos degradados hoje existentes, se bem trabalhados, podem abrigar o a expansão da agricultura sem que seja preciso derrubar mais árvores. O que, aliás, vem sendo dito também por lideranças do governo e do setor do agronegócio. Para tanto, é necessário a intensificação de técnicas já existentes como a integrar numa mesma área lavoura e pecuária, usar sistemas agroflorestais e agrossilvipastoris, adotar cada vez mais o uso do plantio direto e reduzir o uso de fertilizantes a base de nitrogênio.

O desafio é colocar em prática, o mais breve possível, essas recomendações e buscar reverter os prejuízos ambientais e econômicos à vista. Para tanto, são necessárias políticas públicas adequadas, mas também lideranças que tenham visão clara da dimensão do problema e estejam à altura do grave momento.

*Sérgio Henrique Guimarães é coordenador executivo do Instituto Centro de Vida – ICV.

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