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Agronegócio é responsável por 70% dos acidentes de trabalho no MT

O ritmo acelerado de produção do agronegócio, a alta quantidade de agrotóxicos utilizados na lavoura e o aumento do esforço e carga de trabalho para cada trabalhador rural são as principais causas do forte impacto que o modo de produção do agronegócio traz à saúde do trabalhador.

Amazonia.org.br – A cadeia produtiva do agronegócio é responsável por 70% de todos os acidentes de trabalho no estado do Mato Grosso, de acordo com estudo do professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Pignati.  Segundo o estudo, o ritmo acelerado de produção do agronegócio, a alta quantidade de agrotóxicos utilizados na lavoura e o aumento do esforço e carga de trabalho para cada trabalhador rural são as principais causas do forte impacto que o modo de produção do agronegócio traz à saúde do trabalhador.

Ao realizar o estudo, Pignati considerou como cadeia produtiva do agronegócio, desde o plantio até a agroindústria.  Dentro desse processo produtivo, a maior quantidade de acidentes encontra-se na agropecuária.  “A gente pensa que a maioria dos acidentes estão na construção civil, mas não.  20% deles ocorrem na produção agropecuária”.  Segundo ele, os trabalhadores do campo sofrem com péssimas condições de trabalho.  “São mais de oito horas de trabalho contínuo e na época do plantio, não tem sábado, domingo ou feriado para esses trabalhadores”.

O estudo mostrou ainda que, enquanto a quantidade de acidentes de trabalho em números absolutos diminuiu no Brasil, no estado do Mato Grosso ela vem aumentando.  Para o professor, isso é resultado do aumento do esforço produtivo do trabalhador.  “A produção do agronegócio aumentou, mas não houve crescimento paralelo de quantidade de trabalhadores.  Então, a carga de trabalho é maior, o trabalho passa a ser mais extenuante”.

O estudo considera que “esse ritmo acelerado de produção, aliado ao uso e abuso de insumos e alta tecnologia agropecuária, contribuiu para aumentar a produtividade por hectare e a produção anual do agronegócio ao longo dos oito anos analisados.  Entretanto os responsáveis pela ‘boa colheita agrícola’ foram os trabalhadores que venderam e despenderam suas forças de trabalho e que realizaram um esforço produtivo crescente nesse período”.

Intoxicação

Além dos acidentes de trabalho, grande parte dos agravos à saúde do trabalhador está relacionada com o uso de agrotóxicos.  Segundo Pignati, o crescimento da quantidade de insumos agrícolas nas lavouras está relacionado à quantidade de internação e óbito da população do Mato Grosso.  “Em 1998, a quantidade de agrotóxicos utilizados na lavoura era de 19 quilos para cada habitante.  Hoje, essa taxa é de 37 quilos por habitante”.  O Mato Grosso é, atualmente, o maior consumidor de agrotóxicos do país, com 19% de todo o consumo.

O resultado desse crescimento se traduz no aumento dos casos de más-formações congênitas e câncer (neoplasia).  Pignati mostra que os casos de má-formação cresceram 60% no Mato Grosso, enquanto no Brasil esse crescimento foi de 17% e os casos de câncer cresceram 37% no estado, enquanto no país o crescimento foi de 14%.  No período analisado, as internações por intoxicação triplicaram e a quantidade de óbito duplicou.
“Aqui no Mato Grosso, se planta inclusive ao lado das casas, dos córregos, na periferia.  O agrotóxico atinge não só o trabalhador, mas a sua família também fica exposta”, explica o pesquisador, que acredita que é preciso limitar o uso de insumos agrícolas, principalmente quando a aplicação é por avião.  “O avião lança o tóxico, mas o vento leva os agrotóxicos para a cidade, para as reservas, atingindo toda a população”.

Saúde para o boi

O estudo ainda apresenta um grande desequilíbrio entre a vigilância da saúde e a participação do Estado no controle sanitário.  No Mato Grosso, a vigilância sanitária animal e vegetal possui 1.238 funcionários, 242 veículos e escritórios em todos os municípios do estado, enquanto a Secretaria Estadual da Saúde possui apenas 183 funcionários, 18 veículos e 15 escritórios regionais.
“Quanto ao sistema público responsável pela vigilância sanitária (no sentido amplo de saúde), este vem privilegiando a saúde agropecuária em detrimentos à saúde humana”, diz o estudo.  Segundo Pignati, falta acompanhar a saúde do trabalhador.  “Existe apenas um centro de referência em saúde do trabalhador no estado inteiro.  Mas para cuidar da saúde do boi, da soja, tem escritórios em todas as cidades”, diz.

 

Veja o estudo na íntegra.

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