[ISA] Durante uma semana, 27 pessoas, vindas de 11 cidades diferentes de Mato Grosso, São Paulo, Amazonas, Bahia e também da Noruega, visitaram oito áreas experimentais, e dois viveiros onde estão sendo testadas diversas técnicas de Restauração de Áreas Degradadas, que têm em comum o uso de semeadura direta de sementes florestais nativas consorciadas com plantas anuais e semi-perenes, como leguminosas de adubação-verde e variedades agrícolas.
As áreas experimentais visitadas contemplaram tanto a realidade da agricultura familiar, como a da média propriedade e grande propriedade. As técnicas utilizadas em cada local são tentativas de se encontrar as que se adequem melhor às condições socioeconômicas e ambientais de cada perfil de produtor rural. No planejamento de cada experimento foi observado, além das condições de solo e potencial de regeneração natural, também o maquinário e a mão de obra disponível na propriedade, assim como as técnicas de plantio e as variedades agrícolas e nativas, que esses produtores dominam mais. As experiências e aprendizados foram apresentados pelos próprios agricultores que as estão desenvolvendo, discutindo-se com os membros da expedição e com o precursor da agrofloresta no Brasil, o pesquisador Ernst Gostch, que participou nos três primeiros, visitando algumas áreas que ele mesmo havia implantado em assentamentos da região em 2006.
“São plantios planejados junto aos agricultores que toparam testar técnicas inovadoras de reflorestamento, frustrados com as técnicas convencionais de plantio de mudas e coroamento, Eles agora desenvolvem técnicas promissoras para cada realidade da região, mas ainda há muito o que melhorarmos”, avalia Eduardo Malta, responsável técnico do ISA pelos projetos de restauração florestal da Campanha Y Ikatu Xingu.
Participantes praticaram diferentes técnicas
Dessa forma, os expedicionários viram antigas áreas de soja e de pecuária que receberam diferentes preparos de solo, como coveamento, gradagem, roçada e dessecação química; diferentes misturas de sementes nativas e exóticas e diferentes combinações de leguminosas de adubação-verde, como feijão-de-porco, feijão-guandu, stilosanthes e crotalária ou ainda diferentes combinações com culturas agrícolas, como mandioca, milho, abacaxi e maracujá. Durante a expedição houve uma prática envolvendo plantio e manejo de agrofloresta e duas práticas de plantio mecanizado: uma usando-se plantadeira de soja e outra usando-se plantadeira de capim.
Ernst Gostch ressaltou que é necessário ainda desenvolver as técnicas de plantio para diversas espécies nativas que estão faltando, principalmente espécies do interior da floresta, que vivem na sombra das árvores maiores, e muitas vezes têm sementes de vida curta, dificultando sua coleta e transporte até os locais de plantio. Foram sugeridas também maneiras de semear espécies muito pequenas e muito grandes, que têm de ser plantadas em diferentes profundidades. Ernst destaca a importância da matéria orgânica para o crescimento das árvores e propõe a roçada mecanizada de capins e outras plantas das entrelinhas para acumular no pé das arvorezinhas.
Cientes dos desafios que estão colocados, os expedicionários comemoraram principalmente o envolvimento dos proprietários nas pesquisas sobre restauração florestal, que vêm produzindo conhecimento valioso para a região e para o mundo, mas também a quantidade de árvores por metro quadrado (>1/m2 ), a abundância de espécies frutíferas e madeireiras, como pequi, baru, jatobá e ipês, a melhoria do solo que os adubos-verdes produzem e os baixos custos e praticidade da implantação das técnicas.
Marcelo Leite, do jornal Folha de S. Paulo, destacou a importância desse mecanismo de popularização das atividades de restauração florestal diretamente integrado à valorização das sementes e do conhecimento popular associado a elas que a Campanha Y Ikatu Xingu vem promovendo no âmbito da Rede de Coletores de Sementes do Xingu. A rede tem dezenas de coletores de sementes, indígenas, viveiristas e agricultores familiares, que começaram a adquirir renda com o mato que mantém em pé e que também estão plantando em suas próprias terras.
A Campanha Y Ikatu Xingu, juntando os esforços em três anos de ISA, ICV, CPT, ANSA, ATV, STRLRV, com 25 grandes proprietários rurais, 20 médios proprietários, 130 famílias assentadas pela reforma agrária e seis etnias indígenas, pretende completar nas chuvas desse ano 1.000 hectares de restauração florestal em Áreas de Preservação Permanente (APPs) degradadas, sendo 380 ha via plantio direto de sementes, 240 hectares via plantio de mudas e 375 ha via regeneração natural.
Participaram da Expedição Restauração as seguintes instituições e empresas: Ipam, SEMA-MT, USP, UNEMAT, UNOPAR, Nativa Reflorestamento Ltda, Noragric/Universidade da Noruega, Iniciativa Verde, IDESAM, Grupo André Maggi, ICV, ISA, Precursor da Agrofloresta no Brasil, Folha de São Paulo, Ministério Público Federal, além de técnicos da região, do ISA e estagiários.