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Indígenas falam sobre importância de ocupar espaços políticos durante “Diálogos Amazônicos”

Evento em Belém (PA) antecede as discussões da Cúpula da Amazônia.

Por Assessoria de Imprensa ICV

São os povos indígenas quem têm a solução para a crise que a gente enfrenta. A frase foi dita pela militante indígena Kaianaku Kamaiura durante um painel no evento Diálogos Amazônicos, que teve como principal objetivo a discussão de sugestões para reconstrução de políticas públicas sustentáveis para o bioma e suas populações.

O painel “Participação indígena na prática: ocupando espaços políticos e construindo políticas que fazem a diferença” foi proposto pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e, além de Kaianaku, contou com a presença de Soilo Urupe Chue, Darlene Taukane, Rosa Dos Anjos, Crisanto Tseremay’wá e Puyr Tembé.

Trazer reflexões sobre o que está acontecendo em nível internacional para os nossos parentes é fazer com que eles entendam que o estado está cada vez mais crítico. As pessoas que deveriam saber, que deveriam estar ouvindo, não estão e não são. Não adianta falar de Amazônia em pé sem os povos vivos, sem os povos nesses lugares”, disse Kaianaku sobre a perspectiva de Mato Grosso.

Conforme explicou a diretora executiva do ICV, Alice Thuault, o painel foi elaborado a partir do entendimento de que os indígenas devem ser ouvidos durante o processo de tomada de decisões para a Amazônia, principalmente em um evento importante que antecede a Cúpula da Amazônia.

“Essa roda de conversa tem o objetivo de refletir justamente sobre as lições aprendidas até agora na participação indígena. Agora que temos representantes indígenas em cargos de liderança, agora que eles estão construindo políticas, qual lição a gente consegue tirar desse período e o que a gente pode aprender para que nos próximos meses, nos próximos anos?”, questionou.

Experiências

A Kura Bakairi Darlene Taukane explicou que a Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt) surgiu a partir da necessidade de uma organização que pudesse representar os 43 povos indígenas do estado de uma forma coletiva.

Até então, conforme ela contou, era complicado dialogar com agentes públicos e representantes políticos, já que não havia uma liderança para representar os interesses dos povos de Mato Grosso.

“A nossa luta não começa em 2017. A gente sempre esteve a frente para colocar uma pessoa da nossa confiança. Essa luta se concretizou mesmo em 1987, quando nos reunimos e achamos que tinha que ter uma organização”, disse. “Foi necessária a federação ser oficializada em 2017, teve assembleia grande, e a estratégia foi para o estado olhar que os povos existem”.

O Chiquitano Soilo Urupe Chue, membro da Fepoimt, contou que se viu na necessidade de sair de seu território e ocupar espaços de liderança quando ele percebeu que o agronegócio avançava em Mato Grosso e que os direitos da floresta estavam se dissipando. Ele foi superintendente de assuntos indígenas em 2019.

“A partir de 2017 para cá nós viemos intensificando esse movimento dentro do estado para ver se a gente conseguia os espaços, e conseguimos dentro do próprio governo, mas ainda há muito o que se fazer, trabalhar junto dos parceiros”, contou.

Mulheres

A secretaria de Estado dos Povos Indígenas do estado do Pará, Puyr Tembé, pontuou que o movimento indígena foi mudando a sua concepção e contexto ao longo de sua existência. Hoje, as mulheres ocupam espaços que antes só eram concedidos aos líderes homens.

“Antes de ser secretária, eu sou mulher indígena, sou militante, sou liderança do meu povo”, disse. “A gente está ocupando esse lugar mesmo nesse desafio. Mesmo em um sistema com racismo estrutural, mas nós estamos aqui e nós vamos sobreviver e vencer. Mas não vamos vencer só, vamos vencer com nossos aliados nos apoiando”.

Rosa dos Anjos, coordenadora da Agenda indígena da Fundação Amazônia Sustentável trouxe durante o debate a importância de conversar com os indígenas de uma forma mais didática sobre assuntos como mudanças climáticas e mercado de carbono. Por meio do chamado português indígena, é possível trazer o diálogo sobre essas temáticas importantes para dentro dos territórios.

“Se você chega em uma comunidade e o parente não está entendendo nada, porque quando ele está entendendo, ele está reclamando, dando a opinião dele, ele está falando e ele não espera a vez dele, se não ele esquece o que ele ia falar”, contou. “Não é fácil, mas a gente precisa levar essas temáticas para dentro das terras indígenas”.

Os assuntos debatidos durante o Diálogos Amazônicos serão levados para a Cúpula da Amazônia e apresentados para os líderes e chefes de Estado reunidos no evento. Participarão do encontro os presidentes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana, Peru e Venezuela.

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