Na noite do último domingo (14.4), uma reportagem do Fantástico expôs para todo o Brasil o quanto o agro é, literalmente, tóxico em Mato Grosso. O caso trata de ações de pulverização para desmatamento químico em áreas do Pantanal. As fazendas são de um latifundiário de Barão de Melgaço (MT), dono de mais de 10 propriedades na região.
? O composto químico utilizado é o 2.4D, usado pelo Estados Unidos na Guerra do Vietnã, e de acordo com o pesquisador e professor da UFMT Wanderlei Pignati, o segundo mais disseminado em pastagens e lavouras de soja transgênicas de Mato Grosso. O 2.4D é também cancerígeno, teratogênico (ou seja, produz alterações genéticas em descendentes) e desregulador endócrino, afetando a capacidade reprodutora e sexual de populações. Veja a reportagem.
Diante da situação, o Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), rede composta por mais de 30 organizações sociais do estado, vem a público se manifestar:
Num momento em que o planeta sofre as consequências profundas das ações do capital em relação ao clima e aos corpos hídricos e, após anos de seca severa com incêndios criminosos e outros desastres que devastaram nosso Pantanal, é assustador que um latifundiário aja de maneira criminosamente irresponsável à vista de tudo e todos.
É muito provável que o sentimento de impunidade nasça do poder econômico e seja reforçado tanto por governos negacionistas do clima e/ou cínicos, quanto por iniciativas que buscam conciliar o inconciliável. Nesse sentido, é preciso considerar o esforço daquela parcela das autoridades que entendem que o que está previsto na Constituição Federal, em seu Artigo 225 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida...” impele a assumir corajosamente o que se impõe ao Poder Público na ação e dever de defesa e preservação.
Em relação ao ecocídio, é de suma importância que ações absolutamente repulsivas como essa não sejam naturalizadas ou anistiadas por quem quer que seja. Milhares de espécies vegetais e animais foram eliminadas e a contaminação das águas dos rios do Pantanal segue representando riscos à saúde das populações ribeirinhas, indígenas, quilombolas e camponesas que habitam o Pantanal.
A defesa do ambiente deve ser intransigente e, segundo nosso entendimento, não se pode pactuar, aquiescer ou criar artifícios que mascaram a impunidade disfarçada de civilidade. Agir dessa forma é fechar os olhos para todas as comunidades de vida pantaneiras que passam fome e sede. Agir dessa forma é negociar o bem comum e ninguém, absolutamente ninguém possui essa autoridade.
Agrotóxico não defende. Agrotóxico mata!
Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad)