Por Dayse Porto / Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores
A cidade de Goiânia, capital de Goiás, foi o local escolhido para a terceira rodada do ciclo de formações regionais presenciais promovido pela Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores em 2024. A atividade, que reuniu cerca de 20 comunicadores e jornalistas da região Centro-Oeste, aconteceu nos dias 5 e 6 de junho, abordando temas cruciais para o cotidiano de trabalho de pessoas comunicadoras e jornalistas. Os debates realizados ao longo dos dois dias contribuíram para a construção de estratégias eficazes de proteção e empoderamento, essenciais para a prática jornalística e a comunicação popular.
Estiveram presentes representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), Coletivo Magnífica Mundi, Tapajós de Fato, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Essá Filmes e Núcleo de Agroecologia, Educação do Campo (Gwatá-UEG), além de profissionais que atuam de forma independente. Veja como foi:
Fortalecimento da segurança digital
O primeiro dia de atividades foi conduzido por Amarelu, da Rede Transfeminista de Cuidados Digitais. A sessão focou na segurança da informação e integridade digital, destacando a importância de senhas fortes e seguras. Amarelu enfatizou que senhas devem ser longas, compostas por mais de seis palavras e incluir caracteres especiais. Além disso, aconselhou a adoção de senhas diferentes para cada conta, utilizando gerenciadores de senhas como KeePassXC para armazenar e gerenciar essas senhas de forma segura.
Amarelu também abordou técnicas de engenharia social e phishing, recomendando práticas de auto-doxxing e redução de rastros digitais como estratégias de defesa. Durante a sessão, os participantes discutiram em grupos a relação pessoal com senhas e criaram senhas seguras coletivamente. Além disso, foram apresentados casos hipotéticos para debater protocolos de segurança em situações como roubo de celular, doxxing e apreensão ilegal.
Comunicação popular: estratégias e desafios
Dayse Porto, educadora e comunicadora popular, e Caê Vatiero, jornalista da ARTIGO 19, facilitaram o bloco sobre comunicação popular e comunitária dividindo participantes em grupos para debater práticas de comunicação popular em três eixos temáticos: 1) política de cuidado; 2) cobertura nas eleições; e 3) gestão de redes e comunidades. Como abordar, alcançar e compreender o público alvo, a importância de medir o impacto das produções além dos números e o papel crucial das lideranças comunitárias foram alguns dos pontos debatidos.
A discussão sobre a cobertura de eleições ressaltou a importância da presença física em eventos e espaços públicos, como feiras e redes sociais diversas, para combater a desinformação e engajar a comunidade. A sobrecarga de trabalho e a falta de políticas relacionadas à proteção física e emocional, assim como sobre questões relacionadas à diversidade dentro das organizações foram mencionadas como problemas significativos, apontando para a necessidade de sensibilizar lideranças das organizações.
Cobertura sobre pautas socioambientais
No segundo dia, Marcos Wesley, co-fundador do Tapajós de Fato, facilitou o bloco sobre a cobertura socioambiental, ressaltando a necessidade de sensibilizar e mobilizar comunidades sobre a intersecção entre meio ambiente e sociedade. Marcos destacou a importância de temas como mudanças climáticas, racismo ambiental, grilagem de terras e desmatamento, e apresentou exemplos de conteúdos que abordam essas questões.
Os participantes foram divididos em grupos para avaliar suas coberturas e a dimensão dos conteúdos produzidos, destacando a necessidade de formação popular socioambiental. Marcos ressaltou a importância das rádios comunitárias e da oralidade como ferramentas educacionais em áreas onde a internet é inacessível ou onde a alfabetização é limitada e o deserto de notícias é uma realidade.
Empoderamento legal contra o assédio judicial
No terceiro bloco, André Matheus, representante da Flora, Matheus & Mangabeira Sociedade de Advogados (FMMSA), discutiu sobre assédio judicial e o empoderamento legal. Ele explicou como o assédio judicial pode ser utilizado para censurar jornalistas, destacando a importância de documentar detalhadamente o processo de apuração jornalística. No contexto eleitoral, André também abordou a necessidade de garantir equidade na cobertura de candidatos e responder rapidamente a solicitações de direito de resposta.
Estratégias para lidar com o assédio judicial, como buscar apoio da Rede de Proteção e manter contato para esclarecer dúvidas, foram compartilhadas. A discussão enfatizou o empoderamento legal como ferramenta para enfrentar os desafios enfrentados por comunicadores e jornalistas, garantindo a liberdade de expressão e protegendo a comunicação popular.
Conheça o trabalho da Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores.