Eleições 2024: municípios em MT perdem com a ausência de gestões pró ambiente

Resultado do primeiro turno não traz destaques para o cenário socioambiental no estado.

Por Bruna Pinheiro / Formad

A partir de 1º de janeiro de 2025, a maior parte dos municípios de Mato Grosso será administrada majoritariamente por prefeitos sem propostas no campo socioambiental. Dos 141 municípios com resultados no primeiro turno do último domingo (06), somente 11 terão mulheres à frente da gestão. Os partidos da base governista saem na frente, deixando a possibilidade de uma gestão pró ambiente apenas em Cuiabá, para os candidatos Abílio Brunini (PL) e Lúdio Cabral (PT). Os dois disputarão o segundo turno com planos de governo totalmente opostos no que diz respeito à agenda climática, ações de educação ambiental e políticas públicas voltadas para os direitos humanos.

Além da ausência de candidaturas com propostas ambientais, a eleição de alguns nomes para as prefeituras chama a atenção também pela presença de políticos envolvidos em casos de desmatamento, multas por queimadas, entre outros crimes ambientais. Conforme reportagem da Agência Pública, este é o caso de Toni Dubiella (MDB), dono de madeireira e reeleito para a prefeitura de Feliz Natal, com 59,15% dos votos. Ele possui cerca de R$ 3,3 milhões em multas ambientais desde 2015, além de ser alvo de duas operações policiais contra o desmatamento ilegal na região.

Outro dono de madeireira que levou uma prefeitura em Mato Grosso é Miltinho (União), que somou 78,56% dos votos em Colniza. O empresário é sócio administrador da Santa Clara, madeireira multada em R$ 11,5 mil por desmatamento na cidade. Na reportagem completa da Agência Pública, outros prefeitos eleitos são citados pelo envolvimento com crimes ambientais. Confira a lista AQUI. 

O União Brasil, partido do governador Mauro Mendes, conquistou a prefeitura de 60 cidades, sendo o grande vencedor destas eleições. Em seguida ficou o PL, com 21 municípios e o MDB, com 18. A única cidade em que as eleições irão para o segundo turno será em Cuiabá, com a disputa entre Abílio Brunini (PL), que obteve 39,61% dos votos e Lúdio Cabral (PT), que chegou a 28,31%.

Vale destacar que nenhum dos dois era apoiado por Mauro Mendes, que assumiu a campanha do seu aliado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, o deputado estadual Eduardo Botelho (União). Derrotado com 27,77% dos votos, Botelho era tido como certo na disputa do segundo turno.

Com a eleição majoritária de prefeitos do União Brasil, é patente como a máquina estatal trabalha a favor de quem a domina. A questão, para mim, é que no nível municipal a questão programática não pesa tanto quanto no nível nacional, mas, os políticos alinhados à extrema-direita fogem a essa regra, visto que a ideologia precede a carreira política. O fato de termos políticos com crimes ambientais no currículo, embora absurdo, demonstra o quanto estamos longe da relação democracia-ecologia”, analisa o secretário executivo do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), Herman Oliveira.

Escolha em Cuiabá pode definir gestão com foco nas mudanças climáticas

Uma das cidades do país que vem registrando altas temperaturas e os impactos da crise climática nos últimos meses, Cuiabá será disputada por dois perfis opostos quando o assunto é agenda climática e envolvimento com questões ambientais. Analisando o plano de governo dos candidatos, as diferenças são nítidas. Enquanto Abílio traz um plano dividido por temas gerais, o deputado estadual Lúdio Cabral apresenta oito eixos de gestão, entre eles o item Desenvolvimento Urbano e Emergências Climáticas.  

Com 32 propostas somente no campo “meio ambiente”, Lúdio Cabral traz ideias para o enfrentamento à crise climática, como a implantação de um programa de monitoramento da qualidade do ar, reflorestamento em áreas urbanas e periurbanas com vegetação nativa, bem como a rearborização de parques, implantação e demarcação da Zona de Segurança Hídrica do Rio Coxipó e Cuiabá, integradas a um Programa de Reestruturação do Ecossistema da Bacia Hidrográfica, incluindo a recuperação de pequenos rios, córregos e lagos, valorização da agricultura familiar, com estímulo à agroecologia, além da elaboração de um Plano Municipal de Enfrentamento às Mudanças Climáticas e também de adaptação e mitigação das mudanças do clima. O candidato também propõe a preservação de áreas alagáveis na cidade, evitando a drenagem nestes pontos e a revisão de legislações para o incentivo ao resgate de quintais permeáveis e arborizados.

Na área ambiental, o destaque de Abílio seria a “rearborização” de Cuiabá, com o plantio de árvores e a criação de “ruas floridas”. Com o objetivo de uma cidade “mais verde e sustentável”, o deputado federal propõe a criação de um programa de educação ambiental nas escolas, o IPTU verde com descontos na adoção de práticas sustentáveis pela população, recuperação de corpos d’água, expansão da coleta seletiva, substituição da iluminação pública por LED e instalação de novas lixeiras em toda a cidade. O projeto não traz propostas mais consistentes sobre questões socioambientais e geopolíticas da Capital.

“São duas visões de mundo absolutamente distintas, em Abílio as propostas genéricas, sem profundidade porque essa pauta passa ao largo de suas preocupações, além do fato de que a generalidade das propostas demonstra falta de conhecimento do assunto. Por outro lado, a análise da proposta de Lúdio demonstra consistência e, não só real preocupação, até pelo fato de que sua legislatura tem se pautado pelas questões ambientais, mas também pelo fato de ter realizado uma consulta com a população e com detentores de conhecimento. Se a população mato-grossense tiver oportunidade de comparar e se tiver condições de entender as diferenças, será um ganho socioambiental a eleição deste último”, finaliza Herman Oliveira. 

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