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Causa de tumores em MT

KEKA WERNECK

Da Reportagem 

Estudos já associam o uso de pesticidas lícitos e ilícitos em Mato Grosso para manter a potência agrícola à incidência de tumores, uma grave preocupação para a saúde pública e um caso recente de polícia.  

O Estado aparece entre 11 unidades da Federação em que o uso de agrotóxicos é comparado ao aumento de casos de câncer de próstata, testículos, mama e ovário, como aponta o cientista Sérgio Koifman, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), principal referência em pesquisa no país, em artigo publicado na revista Ciência e Saúde, há 4 anos.  

No solo e no organismo humano, esses venenos são cumulativos, ou seja, não têm como limpá-los, contaminando lençóis freáticos e nos tornando susceptíveis não só ao câncer, mas a diversas doenças.  

"Intoxicação crônica, imunoalergias, enfermidades neurológicas, como neurite (inflamação de terminações nervosas: ouvidos, olhos, nariz, boca), mal de parkinson, câncer, má-formação fetal (anencefalias – crianças que nascem sem cérebro – lábio leporino, espinha bífida e outros", cita o médico Wanderley Pignatti, professor do departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que pesquisa o assunto em várias frentes.  

Pignatti tem uma história de cinema para contar e que está investigando, junto com especialistas da Fiocruz e da ong mais antiga do país, fundada em 1961, a Fase – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional.  

Nos dias 1,2 e 3 de março, uma chuva imperceptível de pesticida caiu sobre Lucas do Rio Verde (360 quilômetros de Cuiabá) – coração da soja, do milho e do algodão no Estado. No campo e na cidade, para o espanto dos quase 30 mil moradores, onde havia folhas, seja em outros plantios, sobretudo os de hortaliças, ou em singelos vasos residenciais, como os de samambaias, por exemplo, nada restou, além do talo.  

Todo o verde queimou. Toda a jardinagem da cidade, que se orgulha de ter um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), morreu necrosada. "Ventou durante uma pulverização aérea, o que é muito comum de acontecer, e o vento levou o veneno para além das lavouras que se pretendia proteger", explica Pignatti.  

O acidente dobrou o número de pacientes nas unidades de saúde da cidade, conforme apurou a reportagem. A Polícia Civil abriu inquérito, ainda não concluído. A Promotoria recebeu representações e as oficializou, mas ainda não fez denúncias. Sete meses depois, não há punidos.  

Como se não bastassem os malefícios que os venenos regulares causam ao meio ambiente e ao homem, a Polícia Federal de Mato Grosso investiga, em cinco inquéritos, a ação de quadrilhas especializadas em contrabando.  

Produtos vindos principalmente da China e que dão entrada pelas portas dos fundos do país, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, não passam pelo controle sanitário dos Ministério da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente.  

Na última semana, foram 3,9 toneladas apreendidas em Nova Mutum (269 quilômetros de Cuiabá). É justamente entre Nova Mutum e Sorriso que fica Lucas do Rio Verde. Um mundo agrícola milionário, nova trilha da bandidagem.  

Uma reação contrária a esse tipo de crime vem do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG). O advogado da categoria industrial, Paulo Roberto Calmon, que esteve em Cuiabá por conta da última apreensão, diz que tanto é arriscado o uso de venenos que a lei é dura até para seus clientes.

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