Por Bruna Pinheiro / Formad
A decisão equivocada do governo de Mato Grosso pelo retaludamento do Portão do Inferno, no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, é tema de uma reportagem divulgada hoje (22.07) pela Agência Pública, especializada em jornalismo investigativo. Assinada pela jornalista Silvia Lisboa, a matéria Mato Grosso seguiu os passos do PL da Devastação em obra no Portão do Inferno. Deu errado faz uma relação entre a dispensa de licitação para a contratação da Lotufo Engenharia para a execução das obras e as oportunidades de flexibilização no licenciamento ambiental com a aprovação do PL2159, chamado de PL da Devastação. O caso de Mato Grosso pode abrir precedentes para situações semelhantes em outras regiões do país, incluindo Unidades de Conservação, como o Parque Nacional.
Em entrevista, Andreia Fanzeres, membro da Coordenação do Formad, destaca que a obra “foi um teste drive do PL da Devastação” e relata alguns dos prejuízos sentidos pela população com a interdição da MT-251 durante quase um ano para a execução dos serviços. O material detalha os esforços de órgãos estaduais e a pressão do Executivo junto à órgãos federais, como o Ibama e o ICMBio para garantir a licença ambiental que permitiu o início das obras, no segundo semestre de 2024, com a promessa de conclusão em 120 dias. Quase um ano depois, e menos de 30% das obras estão concluídas. O valor pago até o momento já passa dos R$ 9,3 milhões. Ao todo, o contrato soma R$ 37.646.541,14.
Um dos pontos abordados na reportagem é o interesse antigo de gestões do governo de Mato Grosso na duplicação da rodovia, tendo o Portão do Inferno como um dos entraves para a continuidade. O professor do Departamento de Geologia da UFMT, Prudêncio Castro, é entrevistado e alerta sobre a questão que preocupa cientistas, moradores, sociedade civil e comerciantes. “A parte mais difícil de duplicar é aquela (Portão do Inferno). Então, tirando esse obstáculo, toda a rodovia estaria em condições de ser duplicada”, explica à Pública.
Leia a reportagem na íntegra clicando neste link: https://apublica.org/2025/07/mato-grosso-seguiu-os-passos-do-pl-da-devastacao-em-obra-no-portao-do-inferno-deu-errado/#_
Governo de MT segue sem respostas
Há cerca de um mês, o governador Mauro Mendes reconheceu a inviabilidade das obras de retaludamento no Portão do Inferno e anunciou uma nova proposta, ainda sem a apresentação de estudos técnicos e até mesmo um projeto completo. Agora, a alternativa escolhida é a construção de um túnel. Na época, o Formad alertou que apesar da desistência, é necessário que o governo respeite a tramitação do licenciamento ambiental para a execução de obras e que o mesmo erro não se repita.
Na última sexta-feira (18.07), uma audiência pública realizada em Chapada dos Guimarães frustrou moradores que foram até a Câmara Municipal para ouvir explicações ou conhecer mais da nova proposta do governo. Demonstrando o seu total desinteresse em dialogar com a população e a sociedade civil sobre o caso, a Sinfra-MT designou uma representante que nada sabia a respeito das obras do Portão do Inferno. Assim, todos os questionamentos levantados pela população foram transformados em lamentações, sem respostas oficiais.
O secretário executivo do Formad, Herman Oliveira, esteve na audiência e reforçou sobre as desconfianças da sociedade civil desde o anúncio das obras no local, incluindo as interdições na via. Com alertas e manifestações circuladas na imprensa, redes sociais e atos públicos puxados por moradores, o retaludamento sempre foi questionado. Ele ainda chamou a atenção para a especulação imobiliária que já é notada na região, com a desvalorização de propriedades, o que beneficia a construção futura de grandes empreendimentos. “Sempre desconfiamos que haveria elementos ocultos por detrás dessa necessidade de Pare e Siga, e de intervenção sobre o talude. Já há uma especulação imobiliária por parte de grandes condomínios em processo de licenciamento, cuja contrapartida é praticamente zero“.
Também integrante do Instituto Caracol, ele destacou ainda o indeferimento da Justiça Federal de Mato Grosso ao pedido de suspensão das licenças e obras até a realização de perícia científica que ateste as condições emergenciais no Portão do Inferno. “Ingressamos com uma Ação Civil Pública e ironicamente foi indeferida pelo juiz, alegando que a paralisação das obras ocasionaria ônus ao erário público. Taí o ônus. Já são quase R$ 10 milhões de uma obra que não vai a lugar algum. Lamentável que houve uma miopia, porque já alertávamos sobre a falta de necessidade dessa intervenção“.
Assista a audiência pública e veja os demais comentários sobre as obras.