“Revoada em Defesa do Pantanal” ocupa ruas de Cuiabá em protesto contra destruição do bioma

Ato destacou a inconstitucionalidade da lei aprovada na ALMT.

Fotos de Francisco Alves.

Por Bruna Pinheiro/Formad

“Não deixe o Pantanal morrer! Salve o Pantanal!” Foram com essas palavras de ordem que a “Revoada em Defesa do Pantanal” passou pelas ruas de Cuiabá neste final de semana. O ato performático em protesto pela sanção da Lei 11.861/2022, a “nova Lei do Pantanal”,  teve início na sexta-feira, 2, com a passagem de símbolos do Pantanal pelo Centro Político Administrativo, incluindo a queima simbólica de um jacaré em alusão aos perigos de incêndios aos animais. No sábado, 3, o ato começou na margem do Rio Cuiabá, no São Gonçalo Beira Rio, depois, os manifestantes seguiram da Igreja do Rosário até a Praça Ipiranga, reforçando a importância da proteção ao Pantanal.

Idealizador do movimento, o ator, professor e doutor do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Sandro Lucose, explica que a ideia do ato surgiu a partir da sua vivência como voluntário no combate às queimadas no Pantanal. “Para cuidar do fogo, não podemos tirar o olho dele”, completou. Pensando nisso, o “ato final” do Movimento Revoada é a queima de um jacaré e uma onça pintada, desenhados em pedaços de papel. Na sexta-feira, a cena foi interpretada em frente à ALMT, que aprovou o PL 561/2022, em julho, dando origem à Lei sancionada pelo governador Mauro Mendes, no mês seguinte. No sábado, foi a vez de chamar a atenção da sociedade no Centro da cidade, com a queima do desenho que representava a onça pintada, um dos símbolos pantaneiros.

“É importante que a população entenda que a Lei aprovada na Assembleia recentemente é inconstitucional e precisamos reverter isso. Mesmo com todas as informações técnicas contrariando para que a AL não fizesse isso, a lei foi aprovada. Os representantes do povo mais uma vez não ouviram a sociedade civil organizada, os ribeirinhos, indígenas e pesquisadores. A ideia da nossa ‘Revoada’ é sensibilizar o poder público para que dê um passo atrás e reconheça este grande erro”, reforçou Sandro. 

Pelas ruas do Centro Político Administrativo, estudantes, professores e integrantes de organizações socioambientais, se vestiram de jacarés, onças e tuiuiús, em uma revoada dos animais sobreviventes do Pantanal. Pelo Instituto Gaia, de Cáceres (MT), Wisllene da Silva Souza, alerta para o que já vem acontecendo com ribeirinhos que vivem no bioma. Para ela, defender o Pantanal por inteiro é uma forma de lutar não só pela preservação da natureza, mas também pela vida de centenas de famílias que dependem daquelas águas para o seu sustento.

“O Pantanal é a maior planície alagável do mundo, mas não vemos mais tanto isso no dia a dia. Com a seca dos últimos anos e as mudanças climáticas, em muitos lugares do rio não é mais possível navegar, não há mais peixes em abundância, entre outros prejuízos. São ameaças que podem tirar os pantaneiros do seu lugar. Devemos lutar contra isso”, acrescentou. Wisllene também protocolou a “Carta em Defesa do Pantanal” na Procuradoria Geral de Justiça com o alerta do grupo para a tomada de decisão urgente do Poder Judiciário.

No sábado, foi a vez do ato chegar à Praça Ipiranga. Antes disso, a “Revoada em Defesa do Pantanal” visitou o Rio Cuiabá, um dos principais afluentes do Pantanal, e teve apoio dos pescadores que trabalhavam no local. As cabeças de jacarés foram banhadas carinhosamente pelos estudantes, ativistas e atores que participaram do ato. 

Herman Oliveira, secretário executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), reiterou a inconstitucionalidade da lei aprovada e alertou para os danos ao Pantanal, já fragilizado pela escassez de água, desmatamento e queimadas.

“Nosso ato é um chamado para que o Poder Judiciário de Mato Grosso acate a Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo Ministério Público Estadual e impeça que a lei traga mais prejuízos ao povo pantaneiro, ribeirinhos, indígenas e também à fauna e flora do Pantanal.”

Assine a Carta 

Além do ato pelas ruas de Cuiabá, o Formad e o Movimento Revoada publicaram uma carta em manifesto pela inconstitucionalidade da lei e os graves prejuízos dela para a maior planície alagável do mundo. O documento já reúne mais de cem assinaturas de organizações e mais de 260 assinaturas individuais. Leia a carta e aproveite para assinar

O ato teve participação de pesquisadores, professores, estudantes, representantes da Igreja Católica, de movimentos socioambientais, indígenas do povo Chiquitano, do Instituto Gaia, dos Jovens da Reserva da Biosfera e da Associação Xaraiés, de Cáceres.

Confira as fotos registradas por Francisco Alves: na sexta e no sábado.

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