Manifesto pela vida em defesa dos povos indígenas

Somos todos Guarani-Kaiowá! Somos todos Marãiwatséde!

“Quanto mais as estruturas econômicas neoliberais querem apagar a presença alternativa de povos indígenas no meio de nós mais devemos nos solidarizar com a presença e a vivência alternativas desses povos-raiz, povos-testemunhas de coração unimos nossa solidariedade total às lutas e esperanças dos povos indígenas. A causa é toda nossa, toda do Deus da Vida.” (Dom Pedro Casaldáliga)

Nós cidadãs, cidadãos e entidades mato-grossenses, por meio desse manifesto, levantamos nossas vozes em defesa dos povos indígenas, pois, como afirma Dom Pedro “a causa Indígena é uma causa entranhavelmente NOSSA”. Na atualidade muitos povos originários no Brasil estão submetidos a um contexto de truculência podendo ser considerados como sobreviventes do genocídio histórico praticados contra eles há mais de 500 anos, demonstrando – para espanto do mundo (porque ainda é preciso se espantar!) – que a vida humana, em pleno século XXI, não é tratada com o valor devido e nem com respeito às suas diferenças.

Ante tantas injustiças que vivenciamos cotidianamente levantamos nossas vozes e REPUDIAMOS AS VIOLAÇÕES AOS DIREITOS COLETIVOS desses povos e, para além disso, GRITAMOS A FAVOR DO BEM-VIVER para FORTALECER O RE-EXISTIR, num gesto de franca solidariedade, sem a qual nossa existência também perde o significado.
Ressaltamos que as violações são praticadas contra diversos povos, mas, nesse momento viemos denunciar com veemência as atrocidades praticadas contra dois povos indígenas brasileiros, os Guarani-Kaiowáe os Xavante( Terra Indígena Marãiwatsédé).

O genocídio enfrentado pelos Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul é inadmissível! Para saber, o grupo de 170 indígenas que sobrevive à beira de um rio, cercado por pistoleiros, expulso de seu território tradicional onde estão enterrados seus antepassados, onde está plantada sua história, onde sempre vivenciaram sua cultura, sua espiritualidade… hoje, não lhes pertence mais.

São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças que decidiram ficar e morrer coletivamente se preciso for– morrer com tudo o que são na terra que lhes pertence. O grupo, em uma carta endereçada a todos os brasileiros e brasileiras, descreve sua triste situação alimentar (apenas uma refeição por dia) e a violência praticada contra eles, em especial, contra suas lideranças – quatro mortes num grupo de 170 pessoas – dois por suicídios e dois por espancamento e tiros. No dia 30 de outubro de 2012, um recurso da Funai foi acatado pela justiça, mas os pistoleiros continuam a intimidar e, enquanto o processo não é concluído, os Guarani-Kaiowá estão à mercê, suas crianças continuam desnutridas, prosseguem os assassinatos a tiros, espancamentos e atropelamentos nas rodovias que cortam seus territórios. Essa violência sistemática soma-se à do próprio governo brasileiro em sua lentidão nos processos de estudo e demarcação dos territórios tradicionais que, muitas vezes, cedem às pressões dos latifundiários do agronegócio.

A situação, entretanto, não está limitada aquele estado. No Mato Grosso, os Xavante (o povo A’uwe Uptabi) que habitam a Terra Indígena Marãiwatsédé aguardam ávidos pela desintrusão de suas terras. A luta desse povo pelo seu território dura mais de meio século. Desde a década de 1960, quando o território dos Xavante foi ocupado pela Agropecuária Suiá-Missú (o maior latifúndio do mundo na época), esses indígenas foram transferidos para a Terra Indígena São Marcos, na região sul de Mato Grosso, e por lá permaneceram cerca de 40 anos. Entre os longos e sucessivos recursos jurídicos, finalmente a justiça homologou o plano de desocupação dos não índios que ocupam esse território indígena. Foi determinado que Marãiwatsédé volte a ser ocupada por seus primeiros habitantes: o povo Xavante. Manifestamo-nos a favor desse povo, pois, MARÃIWATSÉDÉ É DOS XAVANTE!

Assim, exigimos que, o Governo brasileiro demonstre o significado de sua existência e dos compromissos assumidos com a sociedade na Constituição Federal tomando atitudes concretas para devolver aos Guarani-Kaiowá, aos Xavante e a todos os povos originários brasileiros, o direito de conduzirem suas vidas, com dignidade e autonomia, em seus territórios tradicionais. Exigimos que sejam cumpridos os direitos inalienáveis, indisponíveis e imprescritíveis dos povos indígenas. E para reafirmar nosso compromisso reforçamos nosso brado: SOMOS TODOS INDÍGENAS! SOMOS TODOS GUARANI! SOMOS TODOS XAVANTE!

Assinam este manifesto
Associação Brasileira de Psicologia Social do MT – ABRAPSO-MT
Associação Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – ADUFMAT
Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ
Coletivo Jovem de Mato Grosso – CJMT
Comissão Pastoral da Terra – CPT – MT
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – CDDPH/MT
Conselho Indigenista Missionário – CIMI-MT
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São félix do Araguaia
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso – FDHT-MT
Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD
Grupo de Trabalho de Mobilização Social – GTMS
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação – GPMSE
Grupo de Estudos Educação ¨& Merleau-Ponty – GEMPO
Comunicação e Arte – GPEA/UFMT
Instituto Caracol – iCaracol
Instituto de Saúde Coletiva – ISC/UFMT
Instituto Humana Raça Fêmina – INHURAFE
Movimento dos trabalhadores Sem-Terra – MST – MT
Núcleo Teresa de Benguela – Psol
Operação Amazônia Nativa – Opan
PET Conexões de Saberes
Plataforma DHESCA-Brasil, relatoria de meio ambiente
Rede Mato-grossense de Educação Ambiental – REMTEA
Resistência Popular
Rusga Libertária

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