Muitas vezes, para provocar mudanças positivas a populações, basta um incentivo inicial que ajude a comunidade a dar um primeiro passo. Pode ser um pequeno recurso para estruturar uma associação ou aquisição de equipamentos em uma cooperativa para diversificar e melhorar sua produção. Foi com este pensamento que o Ministério de Meio Ambiente – MMA desenvolveu o Programa Comunidades Tradicionais, que visa apoiar projetos de extrativistas, povos indígenas, quilombolas, assentados, produtores familiares, entre outros.
O primeiro passo que os beneficiários dão é concorrendo para acessar projetos com recursos de até 5 mil reais, como forma de atender a uma demanda pontual de um grupo social, mas principalmente capacitando-o para terem condições de obter outros recursos, mais vultosos. Para conseguir atender a demanda e atingir a ponta, o MMA busca agências implementadoras para acompanhar mais de perto a execução dos projetos mais de perto. No Brasil, são 17 agências, sendo duas em Mato Grosso: a Associação Nossa Senhora da Assunção – ANSA e a regional Mato Grosso do Grupo de Trabalho Amazônico – GTA
Para Deroni Mendes, secretária-executiva do GTA-MT, as agências implementadoras têm o papel de garantir a capilaridade do Programa, atendendo diversos grupos em diferentes regiões do estado. Cabe ao GTA e as demais agências coordenar o processo de seleção e execução dos projetos de até 5 mil reais. “ a proximidade da Agências Implementadoras garante a assesoria de acordo com as necessidades de cada grupo beneficiário”, explica. Outro aspecto importante ressaltado por Deroni é o compromisso das comunidades em gerenciar e prestar conta do recurso recebido e dos resultados alcançados. “Para o GTA é gratificante fazer essa ponte entre os grupos extrativistas e programas governamentais que viabilizem e potencializem as iniciativas sustentáveis na Amazônia”, conclui.
No ano passado a regional Mato Grosso do GTA acompanhou o desenvolvimento de projetos em 15 comunidades, beneficiando mais de mil famílias. No seminário de avaliação dos projetos, realizado nos dias 08 e 09 de março, em Chapada dos Guimarães, representantes dessas comunidades provaram que conseguiram melhorar suas atividades com este recurso e a renda mensal das famílias aumentou.
Outros benefícios também foram percebidos. Um deles é o estímulo a coesão social, outro é o reconhecimento de que são capazes de elaborar projetos e conseguir financiamento para sua comunidade. A Associação Comunidade Negra Rural da Semaria Boa Vida Quilombo Mata Cavalo de Cima, no município de Livramento foi uma das entidades beneficiadas. Com os recursos, os quilombolas estruturaram um barracão e adquiriram equipamentos para o beneficiamento do cumbaru, bocaiúva e do babaçu. “As pessoas agora estão acreditando que com essa ajuda é possível evoluir muito mais dentro da comunidade”, destaca Manuel Domingos, presidente da Associação. “O melhor é que o benefício se estendeu também a comunidades vizinhas”, ressalta.
Carlos Viana, da Associação Pantaneira dos Artesãos de Cáceres – APAC também sentiu mudanças. O projeto da APAC foi realizar um curso de fabricação de produtos artesanais como brincos, colares e pulseiras, em que 21 famílias foram atendidas. “O curso propiciou a integração das pessoas e a renda familiar aumentou”, explica.
Para a consultora do Ministério do Meio Ambiente, Sandra da Costa, mais importante que o dinheiro é ver a mudança provocada com os grupos sociais. “Isso dá um sentimento de valorização que eles conseguem se reunir, agregar a força ao ver que o governo começou a olhar para eles de uma forma diferente”, comenta. De acordo com a consultora, esse sentimento vem provocando outras mudanças. “O próprio governo já tem outra postura com os tradicionais e isso está mudando o comportamento do urbano Cada vez mais a gente vê o apelo de produtos sustentáveis que venham de uma cadeia de produção socialmente justa”. No entanto, os maiores desafios, ainda estão na questão política, em disponibilizar e diversificar os recursos e os governos criarem as infra-estruturas necessária para atender a demanda dos povos.
André Alves
Jornalista
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