Manifestação em defesa de indígenas reúne dezenas em praça de Cuiabá

Índios participaram de ato contra ocupação de terras indígenas no estado. Movimento nacional quer chamar atenção para necessidades dos indígenas.

Ato em defesa dos povos indígenas em Cuiabá – (FOTO: Caio B.O.B./FORMAD)

Uma manifestação em defesa dos povos indígenas reuniu dezenas de pessoas na tarde desta sexta-feira (9) na praça Ulisses Guimarães, no Centro Político e Administrativo, em Cuiabá. O ato, que mobilizou participantes via redes sociais, tem como objetivo cobrar dos governos e alertar a sociedade sobre as garantias dos direitos indígenas e protestar contra a violência nas ações de desocupação em terras indígenas. Índios de várias etnias, dentre elas Xavante, Parecis e Manoki também estiveram na manifestação.

Partindo de dois episódios de violência, dentre eles a resistência dos povos Guarani-Kaiowa, em Mato Grosso do Sul, e contra a ocupação da terra indígena Maraiwatsédé, onde vivem índios da etnia Xavante, em Mato Grosso, o movimento de repercussão nacional pretende chamar a atenção para as necessidades dos povos indígenas em todo país. Outro fato tomado como reflexão do movimento foi a morte de um indígena da etnia Mundurukú, cuja aldeia é localizada próxima ao município de Alta Floresta, a 800 km de Cuiabá, durante uma operação deflagrada nesta terça-feira (6), de combate à exploração ilegal de recursos minerais em terras indígenas, que resultou em um confronto entre indígenas e policiais federais.

Herman Oliveira, secretário executivo do FORMAD – (FOTO: Caio B.O.B./FORMAD)

Segundo um dos organizadores do movimento, Herman Oliveira, membro do Fórum Mato-grossense de Ambiente e Desenvolvimento (Formad), os problemas enfrentados pelos indígenas extrapolam a questão territorial e passam por questões de necessidade. “O conflito na região da fazenda Suiá-Missú é uma disputa sobre a exploração de um local historicamente reconhecido como território indígena e que vem sendo utilizado por grandes latifundiários em favor de um desenvolvimento que retira dos indígenas o direito à subsistência”.

Para o indígena Boaventura Walua Xanon, da etnia xavante, que vive na região de Maraiwatsédé, a ocupação das regiões ao redor da terra indígena e a utilização das regiões para a cultivo de pastagens tem prejudicado a biodiversidade do local. “Estão derrubando a mata e os recursos naturais. Os córregos estão secando, os peixes estão morrendo. Queremos ocupar o que sempre foi de nosso direito, para sobrevivermos, e recuperar a nossa cultura e fortalecer a nossa convivência”.

Já o indígena Pareci Luciano Tiazoka Emal afirmou que viajou cerca de 470 km para Cuiabá para fortalecer o movimento e chamar a atenção de toda a sociedade para a questão indígena. “Nós precisamos de mais apoio e respeito, que já estávamos aqui há anos e ficamos à margem do desenvolvimento. Nós também queremos crescer e precisamos sustentar nossas famílias e para isso travamos uma luta pela sobrevivência”.

Somos todos Kaiowa, somos todos indígenas – (FOTO: Caio B.O.B./FORMAD)

Dentre as dificuldades apontadas pelos indígenas estão a falta de alimentos para caça e pesca devido às degradações ambientais e as incertezas a respeito das desocupações, bem como a falta de diálogo e atenção do poder público. As estudantes indígenas da Universidade Federal de Mato Grosso Idilaura Canpunxi, que cursa o 1º ano de Psicologia, da etnia Manoki, e Francisneide Kamizaquerazokaero, que cursa Medicina Veterinária, da etnia Pareci, afirmaram que neste momento não existem diferenças entre as etnias, já que todos se unem no mesmo propósito.

Para a professora Michele Sato, da UFMT e membro do Conselho estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, o movimento objetiva consolidar os direitos adquiridos há 40 anos e vem sendo ameaçados constantemente. “O que queremos é a execução de uma determinação legal da desocupação das terras Marãiwatséde, que já foi garantida na Justiça, e o fim da violência em relação aos povos indígenas, por meio da abertura de diálogos mais abrangentes e um despertar da consciência para os problemas vivenciados pelos indígenas em decorrência da exploração ilegal de suas terras”, ressaltou Sato.

Desocupação
A Justiça Federal em Mato Grosso deu início nesta terça-feira (6) ao processo de intimação das famílias que ocupam a área indígena Marãiwatsédé, no nordeste do estado, e que precisarão deixá-la em cumprimento à decisão do Poder Judiciário Federal. Não há prazo estimado para que todas as notificações sejam entregues e não foi informado o número de notificações. Cerca de sete mil pessoas terão que deixar o local, segundo estimativa do governo estadual. Há pelo menos duas décadas estende-se na Justiça a disputa pela posse da terra.

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FONTE: Redação G1-MT

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