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Resultados de pesquisa assinalam a insustentabilidade da soja em Lucas do Rio Verde e municípios do Médio Norte de MT

O meio ambiente e a população rural e urbana são atingidos pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, apontam estudos.

Na última semana, durante os dias 6 e 7, o Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD) realizou no município de Lucas do Rio Verde um Encontro sobre o “Resultado dos estudos sobre os impactos socioambientais da soja e propostas de ações”. Participaram das atividades lideranças de associações e cooperativas rurais, além de representantes dos sindicatos dos trabalhadores rurais, agricultores familiares, assentados, pesquisadores brasileiros e moçambicanos. O Encontro faz parte do projeto “Avaliação dos impactos socioambientais da produção de agrocombustíveis em Mato Grosso”, que está sendo executado pelo Formad no estado.

participantes do Encontro “Resultado dos estudos sobre os impactos socioambientais da soja e propostas de ações” – (FOTO: Caio B.O.B/FORMAD)

Durante o Encontro foram apresentados os primeiros dados e informações coletadas durante as oficinas e as pesquisas de campo desenvolvidas na região do médio norte do Mato Grosso, nos meses de setembro e outubro. Os estudos abrangeram as comunidades rurais, assentamentos e sindicatos dos trabalhadores rurais de Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, além de informações coletadas junto a outros sindicatos e agricultores familiares de Sorriso, Sinop, Feliz Natal, Peixoto de Azevedo e Tapurah.

Os estudos estão concentrados na cidade de Lucas do Rio Verde, conhecida pelo seu potencial na produção de grãos. Como informado pelo próprio site da prefeitura, o município é responsável por 1% de toda produção nacional de grãos, embora sua área ocupe apenas 0,04% do território nacional. Isso somente é possível graças ao fato de que, de seus 364 mil hectares, 266 são lavouras de soja, que representam quase 70% do município. A cidade também está localizada no cerrado brasileiro, o bioma que é responsável pela irrigação de oito das doze bacias hidrográficas do País.

Porém, todo esse potencial de produção está colocando em risco a vida das comunidades rurais, que são excluídas pela cadeia produtiva do agronegócio na região. A população urbana também corre riscos ligados à segurança alimentar e contaminação da água. As pesquisas apontaram queda na diversidade de produção agrícola, desigualdade social e grande concentração de renda e terras por pequenos grupos sociais. Além disso, o modelo de produção no município inviabiliza a agricultura familiar por causa do alto índice de agrotóxicos utilizados nas monoculturas. Esse modelo gera consequências como insegurança alimentar, marginalização do pequeno agricultor e doenças à população pela exposição direta e indireta aos agrotóxicos.

“Produção e meio ambiente, alianças de um mau negócio”
Atualmente vivemos um grande avanço na mercantilização da vida e da natureza. O sistema econômico vem criando padrões e modelos globalizados que sempre são medidos em valores monetários. A maioria desses padrões é desconhecida pelas populações locais, que também não têm uma participação ativa na avaliação e no monitoramento das atividades desenvolvidas pelo agronegócio na região. “O avanço do agronegócio coloca em risco o meio ambiente, quando tratado como negócio ou produto. Isso gera perdas irreversíveis aos recursos hídricos e a saúde da sociedade” afirma João Inácio, pesquisador e coordenador do projeto no Formad.

“Os dados foram coletados e avaliados junto as comunidades atingidas pela o agronegócio” – (FOTO: Caio B.O.B/FORMAD)

Hoje, em Lucas, a maioria dos produtos agrícolas consumidos pela população vem de outros estados. “A falta de incentivos fiscais aos pequenos agricultores e os agrotóxicos utilizados nas lavouras inviabilizam a produção de outros alimentos, além de contaminar o meio ambiente e a população” relata Nilfon Wandscheer, agricultor familiar e representante da COPERREDE.

Em outra pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso e a Fundação Oswaldo Cruz os resultados apontaram a contaminação das águas na região e foram encontros resíduos de agrotóxicos em amostras de leite materno.

O Formad percorreu os assentamentos na região, em que os agricultores alegam a falta de assistência técnica, falta de infraestrutura (saneamento básico e estradas) para chegarem aos centros das cidades, problemas na obtenção de autorização da produção (selos), falta de acesso e incentivo aos programas de aquisição de alimentos, destruição dos padrões culturais das populações tradicionais, que têm laços estreitos com a natureza, além das perdas de produção e o aumento das pragas causas pelos agrotóxicos utilizados nas lavouras de monocultura.

Projeto de avaliação dos agrocombustíveis em MT
O projeto em execução pelo Formad realizou as primeiras oficinas com o objetivo de mensurar os critérios de sustentabilidades comunitários, que foram apontados pelas lideranças das comunidades rurais e tradicionais, identificados e analisados a partir da perspectiva de vida dos grupos atingidos.

Esses dados construídos comunitariamente ajudarão na produção de um relatório oficial e outros materiais que mostrarão que as monoculturas da cana-de-açúcar e da soja acarretam inúmeros problemas para a população das regiões. Os dados também devem alertar as autoridades locais e internacionais para que possam agir de forma ativa no controle dos impactos.

Encontro para apresentação dos primeiros dados e informações coletadas pelo FORMAD – (FOTO: Caio B.O.B./FORMAD)

O projeto tem como objetivo avaliar as certificações e os impactos gerados pela intensa demanda mundial por agrocombustíveis (biodiesel e etanol). As principais agromassas utilizadas na produção desses combustíveis são a cana-de-açúcar e a soja. Por isso os estudos do projeto focaram as regiões de Barra do Bugres (cana) e Lucas do Rio Verde (soja).

Caio B.O.B. Jornalista do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD

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